quinta-feira, 19 de maio de 2022

A Cultura no Muro


 

   Existe um lugar particular onde apuramos os nossos ouvidos, expressamos com o corpo, emocionamos, partilhamos o que pensamos ou simplesmente alimentamos o nosso intelecto. É um espaço genuíno, diversificado, vanguardista, liberal e criativo. É assim que descrevo a Sociedade Musical União Paredense, mais conhecida entre  os habitantes da terra (Parede), como a “SMUP”. Começa as suas iniciais “SM” como tantas outras sociedades musicais dispersas pelo nosso país,  muitas delas não são mais do que vestígios reminiscentes de um passado esquecido, estagnado e que agora servem para encontros nostálgicos ou apenas para passar o tempo entre uma partilha de bilhar, um jogo de cartas ou de tabuleiro. 

     Bem próxima do mar, a SMUP regista 123 anos de história, sobre a figuras desta terra, sobre os inúmeros eventos culturais e festas recreativas. Mas conseguiu inovar-se, remodelar e modernizar-se para um espaço de fruição cultural diversificado livre e de experimentação. Fundada em 1899 e ao longo do sec XX passou por momentos da monarquia e da república,  superou uma ditadura, cresceu e acompanhou todo o desenvolvimento urbanístico e cívico desta zona de Cascais. Sob uma atitude filantrópica aliada à difusão da cultura musical, a SMUP esteve assente sobre duas frentes: a música pública (concertos e arruadas) e a realização de eventos. A educação pela prática musical acabou também por surgir mas mais tarde. A banda filarmónica é o elemento, impulsionador de todas estas atividades que aqui são realizadas. Durante a década de 50 do sec.XX surge nas tardes de domingos os bailes dançantes abrilhantados por grupos musicais formados pelos próprios elementos da banda filarmónica. Entre as diversificadas atividades, foi também criado um orfeão que acompanhava a banda nas suas atuações. Infelizmente o seu tempo de vida não foi muito longe e os elementos foram incentivados a integrarem-se no grupo de teatro da Sociedade, género revista.


     Ao longo da historia da SMUP, sente-se o forte caracter colaborativo e mesmo atravessando por altos e baixos entre os anos 60 e 70 derivados das dificuldades financeiras ou remodelações sofridas, esse espírito perdura até hoje. Nessa época e com as atividades suspensas, a SMUP mantem apenas os bailes aos domingos e a abertura de um novo espaço destinado à restauração e que funciona até aos dias de hoje.
   Depois de uma interrupção e nos anos 80, as atividades culturais habituais voltaram, surgindo também as aulas de dança, além da escola de música como forma de atrair novos elementos à banda da SMUP e também os campeonatos de xadrez que infelizmente acabaram por desaparecer.


    Em 2013 e após uma nova intervenção do edifício, a SMUP arranca na sua organização um coletivo jovem, eclético e mais próximo das tendências atuais na cultura do sec. XXI. A SMUP é hoje mais do que uma sociedade musical. É um universo de oportunidades nas diversas áreas culturais da música, teatro, dança, literatura, e artes visuais. Na musica há espaço para o jazz desde os grandes nomes ou músicos mais jovens, portugueses e até estrangeiros. Para os melômanos é possível descobrir projetos interessantes com sonoridades de caracter experimental. O sótão do edíficio, entre sofás,  poltronas e um candeeiro de pé, confere um lugar mais intimista para estes concertos que se realizam das quintas-feiras aos sábados. Este mesmo espaço é também dedicado a sessões de leitura e partilha de palavras e pensamentos. Ainda no mesmo piso é possível espreitar o terraço que no verão convida-nos a admirar as noites estreladas de luar.

     


  
    Mesmo com uma diversidade cultural e musical, é impossível esquecer a banda filarmónica, que continua a ecoar na Rua Capitão Leitão ou animar em dias de celebração, os jardins ou o paredão da praia. A escola de música mantem a aprendizagem dos seus alunos através dos instrumentos que a Associação disponibiliza. São vários os projetos culturais que aqui iniciaram o seu percurso, atraindo visitantes de Lisboa que se deslocam à Parede para ver e ouvir. Falo por exemplo do festival Microclima que acontece anualmente e é uma oportunidade para os músicos de diferentes géneros musicais (a edição deste ano contou com a presença de Filipe Karlsson e Tito Paris) e artistas visuais (como Luís Lázaro), apresentarem os seus projetos. Este festival tem vindo adquirir notoriedade no circuito dos pequenos festivais que surgem na grande área de Lisboa.

    Como qualquer Sociedade musical há um salão e quando não há festa ou espetáculos é o local onde são realizadas as aulas de dança com a coreografa Aldara Bizarro ou de Teatro com o Encenador Manuel Jerónimo. Conta-se ainda as atuações do grupo Teatro Riscado a realização de pequenos ciclos de cinema, debates ou exposições de fotografia. Os domingos são dedicados à família e nas férias de verão há ainda a realização de worskshops e actividades orientadas para as artes visuais. 


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    A atual organização da Sociedade é jovem versátil e muito criativa, provindo de diversos meios profissionais e artísticos. Entre os elementos da direção encarregues na divulgação do programa conta-se também com artistas visuais e ilustradores, como Bernardo Carvalho, Joana Pardal e Madalena Matoso, para concepção dos cartazes bem como as imagens colocadas nas redes sociais concebida para cada tipo de evento. 






    
       Esta coleção de cartazes enquadram-se no espirito que aqui se vive e nos eventos realizados. Com uma composição de elementos que regem pela simplicidade, contraste, e clareza na mensagem, os cartazes são de uma grande qualidade gráfica. Alguns com uma linha mais minimalista outros de composição mais compactas o resultado é harmonioso. Sobreposições e combinações cromáticas de figuras, além de um ritmo e uma rica intensidade estética, entre o traço, a mancha, geometria, e tipografia utilizada. É uma composição equilibrada onde a comunicação entra numa harmonia entre a forma e o sentido das palavras. Ao percorrermos pelo interiores do edifício, os cartazes que por ali estão dispersos preenchem as paredes transformando numa especie de exposição permanente.





        A SMUP sem pretensões, distingue-se pela sua diversidade, está viva e recomenda-se. Como seria o país se existissem espaços culturais próximos da população, que promova a cultura nas diferentes áreas intelectuais ao serviço de todas as idades, alcançando assim os que ainda não entenderam que precisam dela.


Sejam bem-vindos



                                                                        



*Fotos: https://www.facebook.com/smup.parede/photos/?ref=page_internal










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