Ao entrar nesta exposição senti como se o meu pai me acompanhasse, pois foi ele que me apresentou ao mundo fantástico da arte, que nos faz viajar e pensar em tudo o que nos rodeia, em harmonia com a natureza, vai ser esta exposição, na forma de instalação uma viagem em torno do oceano e da vida nos fundos marinhos.
Ao chegar aos jardins da Gulbenkian, evadidos pela luz do sol, damos lugar a uma escuridão imensa que se vai eclipsando pela sala fora, o chão, as paredes, o tecto confundem-se, como se a mergulhar no oceano, nas profundezas estivéssemos a ir em direcção ao fundo do mar.
À medida que caminhamos no espaço, qual Julio Verne, vamos olhar através das luzes apontadas para as obras de diferentes cores expostas no chão, começando uma viagem sensorial na contemporaneidade, de uma visão que começa difusa que nos remete para uma aventura inesperada, e ao chegar ao fundo do mar, vemos que há uma vida, uma comunidade de corais. Entre o escuro e a luz, o visitante torna-se um performer no espaço, pois aparece e desaparece.
A luz começa a voltar e ao olhar para trás tudo fica nítido, é brutal esta viagem, que nos leva a ter tempo, para caminhar, ver, sentir, tocar e explorar e simplesmente desfrutar desta original experiência em contraste com uma sociedade em que tudo é rápido.
É como se fosse uma festa dos sentidos, as esculturas expostas em resina acrílica e objectos têxteis, mantas, tapetes, em camadas acumuladas e sobrepostas como estratos sedimentados.
Ecosistemas, nos quais cada objecto-coisa-criatura age e se relaciona com o outro.
Medusas, seres marinhos,
Ao olhar para o chão, e ver o caminho e as obras, ganhamos consciência do nosso próprio corpo.
Diz o artista, In Timeout: “ A ideia é fazer as pessoas aproximarem-se. Cada uma delas vai criar as suas narrativas, e fazer os seus caminhos. E torná-las activas.”
É impossível de ver rodando sobre o seu eixo vertical.
O artista visual pegou nas profundezas do oceano, e com a sua artistícidade, transformou-o em poesia nas formas que criou, aliando a arte, a cultura e a natureza servindo como um alerta, para tratarmos com mais cuidado e carinho, os oceanos, que tal como nós, que vivemos em comunidade, também no fundo do oceano existem comunidades.
A água, os oceanos são a fonte essencial de vida no nosso planeta, como tal é necessário alterar os nossos comportamentos, para viver um maior equilíbrio, com a natureza, e connosco, com os seres marinhos e as comunidades de corais.
Tal como na viagem a esta exposição, aos oceanos, torna-se claro, como cita: carson, rachel, p.3 em “Moldada na escuridão”:
“…ao homem no decorrer de uma longa viagem pelo oceano, ao observar a linha do horizonte a regredir dia após dia, encrespada e sulcada pelas ondas; quando à noite se apercebe da rotação da terra ao ver as estrelas moverem-se sobre a sua cabeça; ou quando sozinho num mundo de água e céu, sente a solidão do seu planeta à deriva no cosmos. É então que compreende, como nunca em terra, que o seu mundo é aquático. Um planeta dominado pelo manto protetor do oceano no qual os continentes não passam de transitórios intrusos terrestres sobre a superfície do omnipresente mar.”.
O que sai desta exposição, instalação é que depois de entrarmos nesta escuridão, por vezes desarmante, de um mundo desconhecido e fantástico do artista visual, Hugo Canoilas, vai ela servir como uma reflexão feita à medida que vislumbramos luz quando chegamos à superfície da água, embalados em ondas de espuma nos apercebemos que o nascimento da terra, nos oceanos, tem de ser gradual e respeitado, e perceber que as acções do homem vão ter consequências, e que o ser humano não está acima de nada nem de ninguém, somos todos seres vivos, e todos fazemos parte da natureza, está na altura de mudar uma relação de luta e desafio com os recursos naturais, aproveitá-los e respeitá-los, tal como os elementos, a água, a terra, de forma a crescemos em harmonia e a ter arbitrariedade, o que significa que nada nos obriga a ter os mesmos comportamentos que os outros, temos de seguir o que a nossa consciência nos diz, que é ganhar uma maior consciência para a importância vital do elemento água, que sem ela nada existe.
Local: Museu Calouste Gulbenkian- Galeria de exposições temporárias
Hugo Canoilas - "Moldada na escuridão"
Data: Até 30 de Maio de 2022
Horário: Quarta-Segunda feira, das 10:00-18:00 Entrada livre
Bibliografia
Weil,Benjamin, Carson,Rachel & Rita,Fabiana, Canoilas,Hugo, Fevereiro de 2022,Moldada na escuridão, sculptured in darkness, Editorial coordination, Fundação Calouste Gulbenkian
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