segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Francesco Careri e o livro Walkscapes: O Caminhar como Prática Estética

 


O livro Walkscapes: O Caminhar como Prática Estética, de Francesco Careri, publicado em 2002, é uma das obras mais influentes na reflexão contemporânea sobre as relações entre arte, arquitetura e território. O autor propõe compreender o ato de caminhar não apenas como deslocamento físico, mas como uma prática estética, crítica e projetual, capaz de gerar novas formas de leitura e intervenção no espaço urbano e paisagístico.

O autor: Francesco Careri

Francesco Careri (1966) é arquiteto, professor e investigador italiano, atualmente docente na Università degli Studi Roma Tre, onde integra o Laboratório de Arte Cívica. É também cofundador do grupo Stalker/Osservatorio Nomade, coletivo interdisciplinar dedicado à exploração dos territórios urbanos e às práticas que envolvem a participação social.
A sua investigação aborda a arquitetura como experiência e o caminhar como instrumento de conhecimento e projeto, propondo uma abordagem sensível e performativa à construção do espaço.

Walkscapes

Em Walkscapes, Careri propõe uma leitura do caminhar enquanto ato criativo e estético que ultrapassa a função prática do deslocamento. O livro retrata o ato de caminhar como prática artística ao longo da história, desde os rituais de peregrinação das sociedades antigas até às vanguardas do século XX, nomeadamente o Dadaísmo, o Surrealismo e o Situacionismo.

Ao longo da obra, o autor demonstra que o ato de andar sempre serviu como meio de construção simbólica do espaço, e que nas vanguardas artísticas o caminhar reaparece como estratégia crítica e poética, desafiando as normas do urbanismo e do ritmo da vida moderna.

Careri recupera especialmente as ideias da Teoria da Deriva do pensador Situacionista Guy Debord, nas quais o passeio urbano transforma-se num processo de exploração emocional e subjetiva da cidade. Esta abordagem inspira a noção contemporânea de caminhar como projeto, em que o território é observado, interpretado e transformado pela presença e pelo movimento do próprio corpo.

O caminhar como prática estética e projetual

Para Careri, o ato de caminhar é simultaneamente estético, político e arquitetónico. Assim, o autor sugere que a arquitetura não se limita ao edifício, mas inclui também ações, percursos e narrativas. O espaço deixa de ser apenas um objeto físico para se tornar um processo em constante transformação, ativado pela presença humana e pela deambulação.

Esta obra influenciou diversos campos desde a arte contemporânea, urbanismo, geografia cultural, até à antropologia. O livro contribuiu para reconhecer o “walking art” como forma de expressão artística e consolidar o conceito de práticas espaciais, modos de agir no território que misturam simultaneamente o corpo, o movimento e a experiência.

Artistas como Richard Long, Hamish Fulton e Janet Cardiff são frequentemente referidos como exemplos de criação através da caminhada, transformando os seus trajetos em obras que interrogam o espaço, o tempo e a percepção.


Francesco Careri, em Walkscapes: O Caminhar como Prática Estética, propõe uma redefinição do papel do artista e do arquiteto: mais do que construir, trata-se de perceber, experienciar, revelar e registar o espaço através do caminhar.
A obra demonstra que andar é um ato de conhecimento e criação, um modo de pensar e projetar o mundo. Ao transformar este gesto quotidiano numa prática artística e investigativa, Careri amplia os limites da arquitetura e da arte, convidando-nos a habitar o território com um olhar crítico, poético e sensível.