A cultura visual, de acordo com os professores Eduardo Costa e Iara Schiavinatto em “Cultura visual e história" (2016), perpassa o condicionamento do modo de ver e de apreender socialmente uma imagem, símbolo ou objeto. Trata-se de um processo de alfabetização visual coletiva, na qual os sujeitos sociais, ao mesmo tempo em que assimilam informações e significados, atuam ativamente na construção dos sentidos atribuídos aos elementos visuais. Nesse sentido, a construção visual do real está submetida a um efeito bumerangue, em que ver e fazer ver são lógicas indissociáveis.
Ainda que complexo, esse processo ocorre de forma natural, submetido a dinâmicas de subjetivação historicamente configuradas. Assim, a cultura visual implica a construção social do olhar, atravessando, segundo os autores, “a configuração identitária, o desejo, as operações de memória e esquecimento, as articulações entre imaginação, razão, sensibilidades, percepções, habilidades cognitivas”.
No campo da arquitetura, esse conceito se materializa a partir da constituição e transmissão de diferentes linguagens cujos significados são socialmente apreendidos e disseminados. Nesse sentido, o uso de determinados elementos, ornamentos, formas e materiais, presentes em referências compartilhadas, permite reconhecer, por exemplo, a função e a época em que um edifício foi construído. Todavia, para além disso, a dimensão visual da arquitetura submete-a à atribuição de noções arbitrárias configuradas histórica e socialmente: feio, bonito, moderno ou ultrapassado.
Em arquiteturas históricas de matriz eurocêntrica, sobretudo as que antecedem o movimento modernista, a importância social da cultura visual é reforçada por meio do conceito de “arquitetura parlante”, em que elementos construtivos e ornamentais, usados repetidamente, adquirem significados específicos voltados à codificação e à legibilidade das formas construídas. Esse processo se materializa na generalização de convenções decorativas que compõem um dicionário gráfico comum em que cada tipologia construtiva possui características próprias. Assim, segundo o arquiteto francês Viollet-Le-Duc (1868) “a igreja não se parece com a prefeitura; esta não pode se confundir com um asilo, nem o asilo com um castelo, o castelo com um palácio, um palácio com a casa de um burguês”.
Segundo a professora Annateresa Fabris (1993), até o início do século XX a arquitetura era concebida “como linguagem dotada de valores simbólicos e emotivos que deveriam ser transmitidos a todas as camadas da sociedade”. A constituição desse repertório social está ligada à visualidade como experiência histórica, o que ultrapassa o campo estrito da arquitetura e envolve outras formas de mediação, como a fotografia. Nesse sentido, a formação da cultura visual arquitetônica depende do valor pedagógico da circulação de discursos e imagens, promovidas por meio da citação, da alusão e mesmo da imitação, tanto na arquitetura, quanto na fotografia.