terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Habitat do Jovem Artista - Espaços de Exposição Alternativos

Uma inauguração é um tempo-espaço estranho e viciante. Ninguém chega muito cedo, com medo de ser o primeiro, nem muito tarde, com medo de perder a exposição. Toda a energia vive, normalmente em cerca de duas ou três horas de conversas, bebidas e pausas de “vamos lá fora que aqui está calor”, acompanhadas por cigarros.

No meio de tudo isso vê-se arte e pondera-se os "comos" e os "porquês". São ambientes sociais e que, não fossem os locais e as obras sempre diferentes, se tornariam repetitivos rapidamente. Na pequena cidade de Lisboa a comunidade artística vai-se conhecendo muito facilmente ao frequentar este género de eventos, surgem os jovens artistas com sede de partilha. Nas grandes instituições estão os grandes artistas, e as inaugurações parecem algo muito elitista e pouco acessível, apesar de serem eventos populosos com entrada e comida gratuitos. Neste sentido, vão surgindo espaços alternativos de exposição, muitas vezes manipulados pelos artistas e não tanto por galeristas ou curadores, locais férteis de entreajuda onde as oportunidades se criam a elas mesmas.

Um destes eventos foi, por exemplo, a exposição “Nada Mais Que Isto”, que ocorreu dia 23 de agosto. Tomás Saraiva é um jovem artista que frequenta neste momento o mestrado de curadoria em Coimbra. O seu amigo Jaime Martins-Barata mudou de casa em agosto, e portanto, entre fins e inícios de contrato, com uma casa vazia, ainda por sofrer mudanças, surgiu a ideia de fazer uma exposição. A partir do texto “Contra a Interpretação” de Susan Sontag, numa exposição que durou apenas o tempo da inauguração, surgiu algo equilibrado e extremamente forte. A folha de sala, feita por Margarida Leal, tem de ser lida por um espelho, e pelas paredes da pequena casa íamos encontrando frases que remetiam a esta ideia da necessidade (ou não) de interpretação de um texto ou objeto artístico. Com artistas em estados de carreira distintos e um ambiente acolhedor, passou-se uma noite bonita sem grandes barreiras.


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No dia 19 de setembro inaugurou a exposição “Brincar É No Pátio!”. João Marques e Tatyana Cristina, ambos ex-alunos da Faculdade de Belas-Artes, abriram as portas do seu atelier conjunto em Carnaxide e deram a oportunidade a colegas e amigos de mostrarem as suas obras. Participaram mais de trinta pessoas nesta exposição que decorreu ao longo de três dias (19, 20 e 21 de setembro). A inauguração começou às 18h e estendeu-se até às 4h da manhã, com dj’s e músicos pela noite dentro que participavam também na exposição. Peças de parede, pinturas, fotografias, esculturas, objetos, livros e vídeos. Havia uma secção só com diários gráficos para consulta; obras que se adaptavam ao espaço, cerâmicas num tanque cheio de rãs que acompanhavam os dj’s; uma secção de mostra de videoarte ao ar livre; e hambúrgueres vegetarianos na grelha.


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A razão de ter decidido escrever sobre este tema foi uma inauguração que se passou na última sexta-feira, dia 24 de outubro. O coletivo W.A.S.P. é formado por um conjunto de estudantes de diferentes áreas, Odete Lopes (design), Tiago Verdasca (arquitetura) e Tiago Boto (pintura) e tem como objetivo a organização de eventos para integração numa comunidade artística, dando palco às mais diversas práticas. Esta última exposição tinha como título “Vogados” e passou-se num antigo escritório de advogados, tendo sido possível visitar nos dias 24, 25 e 26. Através de convite e open call, vinte e nove artistas apresentaram o seu trabalho. Organizado por salas, achei curioso o facto de cada uma ter uma atmosfera diferente, quase como se pertencessem a pequenos universos. Talvez porque a iluminação também variava de sala para sala, visto que não tinham acesso a eletricidade, a improvisação ganhou espaço através de fios que vinham do andar de cima e se ligavam a abajures de diferentes formas espalhados pelos escritórios.


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Estes espaços e eventos são o que fazem os jovens artistas sobreviver em Portugal. Iniciativas autopropostas, que alimentam a vontade de criação. Improvisos que dinamizam espaços e reestrutram o modo de pensar uma exposição. São as nascentes do que mais tarde chega às grandes massas e se considera “boa arte”, lugares de uma beleza imensa, onde tudo flui e comunica.


1. Vista da exposição "Nada Mais Que Isto", escrito "contra factos não há interpretações" numa parede com pilhas de livros do dono do apartamento.
2. Vista da exposição "Nada Mais Que Isto", escrito "conteúdo <3" na porta do frigorífico.
3. João Marques, Sete dias, 2024
4.Mapa da exposição "Nada Mais Que Isto".
5. coletivo ssensível, conteúdo ssensível, 2025. livro de artista à venda na exposição.
6. André Carreiro Oliveira, Grifo, O Trampolim Vertical, 2025
7. Sarah Pripas, Deixei a luz e fiquei com o ponto, 2024
8. Mapa da exposição "Brincar É No Pátio"
9. Wesley Barros, na minha casa a água da sanita é bebível, 2025
10. João Salvador, Armadilha, 2025
11. Rita Fonseca, Sem Título, 2025
12. Mapa da exposição "Vogados"