Georg Baselitz, Blonde ohne Stahlhelm-Otto D.,
1987, Óleo sobre tela, 198,5 x 154 cm. Pormenor
Crédito: Maria David
Exposição Temporária: Dos Pés à Cabeça
Inauguração: 25 jun 2022-16h
Período
De 25 de junho de 2022 a 9 de abril de 2023
De terça a domingo
10:00 às 19:00 (última entrada às 18:30)
Encerra à segunda-feira
Gratuito no primeiro domingo de cada mês.
Curadoria: Cristina Gameiro
Morada
CCB, Antigo Museu Coleção Berardo, Piso -1
Praça do Império
1449-003 Lisboa, Portugal
Crédito: Maria David
Dos Pés à Cabeça
Encontra-se, no antigo Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém em Lisboa, até 9 de abril, a exposição temporária, Dos Pés à Cabeça, com curadoria de Cristina Gameiro. A exposição foi pensada especialmente para o público infantil (desde a primeira infância ao 2.º Ciclo) e visa dar a conhecer o modo como os artistas modernos e contemporâneos observam, pensam, apresentam e representam o corpo humano.
O interesse pelo corpo e pela sua representação tem sido partilhado ao longo dos séculos pelas crianças e pelos artistas e tem sido para ambos uma forte fonte de inspiração. A importância da representação da figura humana ao longo da história da arte, e também a curiosidade que suscita nas crianças, são o mote para o desenvolvimento desta experiência. Esta exposição promove um diálogo entre vários artistas que refletem e representam o corpo, através de suportes e técnicas diferentes e convidam o público a desenvolver novos movimentos de pensamento e também a sentir o corpo enquanto obra de arte.
Constituída por obras da Coleção Berardo, a exposição inclui artistas como Henri Michaux, Jean Dubuffet, Caetano Dias, Peter Blake, Fernando Lemos, Ângelo de Sousa, Helena Almeida, Georg Baselitz, Keith Haring, Ana Mendieta e Álvaro Lapa, entre outros.
A exposição desenvolve-se em oito galerias que nos apresentam estrategicamente as obras/experiências, respeitando a estatura do público a que se destina e suscitando num jogo alternado a aproximação, o afastamento, a observação, o toque, a imaginação, o pensamento, o jogo físico, o jogo simbólico ou a inventividade.
Para facilitar a compreensão da representação do corpo ao longo da história, somos recebidos na primeira galeria por uma linha do tempo que nos permite viajar desde a pré-história, com as primeiras representações do corpo humano até ao século XXI, com paragens pela arte egípcia, grega, romana, medieval, renascentista e moderna.
Somos confrontados pela influência do desenho infantil no traço de muitos artistas do século XX, encontramos exemplo disso na obra de Jean Dubuffet Paysage aux Arbustes (1949) Óleo sobre tela.
Jean Dubuffet incorpora também às artes o termo assemblage para a exposição The Art of Assemblage, no Museu de Arte Moderna- MOMA- de Nova York em 1961.
O espaço da exposição acolhe as obras umas vezes em tons neutros , noutras como que num brincar de azuis, favorecendo a experiência de fruição. Ao fundo, passando pelo corredor encontramos a obra Fargo, Blue, de James Turrell, totalmente imersiva, preenchendo todo o espaço da última galeria e transportando-nos para uma experiência de espaço e de luz, que altera a nossa forma de estar e a perceção que temos do corpo. É como mergulhar no azul e senti-lo no corpo todo. Aqui fazemos parte da obra de arte e somos recordados de que temos um papel ativo no museu.
As obras incluem pintura, instalação, fotografia, vídeo e, no final, na última sala, há lugar para que cada um faça também parte desta exposição. Por fim, as crianças podem recriar as obras que viram, ou inventar performances ou servir de modelo a um espelho.
Sente-se no espaço um jogo tranquilo de luz e sombra que favorece as experiências e destaca as obras.
O layout da exposição e a folha de sala foram elaborados tendo em conta o público a que se destinam.
James Turrell, Fargo, Blue, 1967, Projeção de luz azul sobre parede
Crédito: Maria David
Inclinando o Nosso Pensamento
Georg Baselitz, Blonde ohne Stahlhelm-Otto D., 1987,
Óleo sobre tela, 198,5 x 154 cm.
Crédito: José Manuel Costa Alves
A obra de Georg Baselitz Blonde ohne Stahlhelm-Otto D. convida-nos a entrar. Mas antes, a um olhar demorado, e a fazer vários movimentos de cabeça, inclinando também o nosso pensamento como que se nos suscitasse uma fuga ao convencional. Observo demoradamente esta obra e posso fazer um paralelo com a necessidade de experimentar outros ângulos de observação, em educação de infância, partindo talvez de premissas culturais e artísticas contemporâneas, empoderando as práticas educativas com novos ensaios e olhando também para o que está no “avesso das Imagens”.
O pintor e escultor alemão Georg Baselitz, decidiu num certo dia de 1969, procurando escapar ao conceitualismo, passar a pôr de pernas para o ar as figuras de suas telas. Desde então, as suas obras têm formado uma sucessão de imagens invertidas de dimensões cada vez maiores e de definição inversamente proporcional. Este ato de derrubar as convenções da configuração representacional assinalou uma nova fase da sua experimentação. Olho para a escolha deste artista radical do neo-expressionismo alemão, como que sentindo uma promessa de rutura, de novos olhares e de novos ensaios.
Está patente ao longo da exposição um sentido de movimento, trazido por novas descobertas e avanços técnicos e materiais que vão permitindo alterar a representação da figura humana ao longo do tempo. A chegada da fotografia, vem acrescentar à pintura e à escultura outra forma de guardar a imagem de alguém.
Na galeria 4, espaço para olhar, ver e ouvir encontra-se uma obra de vídeo de Caetano Dias, Sonho de Criança, o artista apresenta-nos uma forma crítica de ver o mundo, a partir do corpo de uma criança, balançando um arco. O som delicado da caixinha de música embala-nos, mas também nos desassossega quando o plano da câmara desce e observamos a realidade dura a sua volta.
A descoberta de diversas formas de representação leva o público a entender a arte como algo único e tão especial por conter a expressão singular e própria de quem a produz.
A exposição permite ir ao encontro de conceitos fundamentais no desenvolvimento da cidadania ativa como: individualidade; igualdade de género; liberdade; identidade; cidadania; democracia.
A fotografia de Nan Goldin, por exemplo, lembra-nos que não somos todos iguais mas queremos todos ter a liberdade de sermos como somos.
No avesso das imagens: Ensaiar Modos de Ver
Keith Haring, Untitled (Head through Belly), 1987 - 1989
Crédito: Maria David
A exposição Dos Pés à Cabeça representa um contributo importante para desmistificar a arte moderna e contemporânea por parte das crianças. Poderá ser entendida como um exemplo de aproximação à infância a partir de premissas culturais e artísticas contemporâneas, um lugar de ensaio, de imaginação e de experiência.
Para dar suporte à minha narrativa e focando-me no conceito de experiência, convoco Dewey (2008), que na sua obra “A arte como experiência”, o autor considera que compreender a arte enquanto experiência, significa entender que a arte não se pode separar da vida. Para o autor, a experiência artística é uma experiência estética. Considera que as artes devem constituir a parte central do currículo da criança, e que a criança deve “aprender fazendo”. Assinala a importância de conhecer os interesses das crianças, para que a partir delas se suscitem novas experiências. O interesse pela representação da figura humana parece ser uma vantagem para a motivação das crianças.
A exposição parte das artes visuais, por forma a alargar as experiências de aproximação, de observação, de exploração e de fruição de obras de arte.
O contacto com diferentes modalidades expressivas (pintura, escultura, fotografia, vídeo, etc) em contexto de museu favorece para além do experimentar executar e criar a oportunidade de apreciar e de dialogar sobre o que se observa. A exploração de diferentes imagens facilitará a descoberta da importância e expressividade dos elementos formais da comunicação visual. A observação e diálogo sobre elementos expressivos da comunicação visual como a cor, e texturas, as formas geométricas, as linhas, as tonalidades, a figura humana, entre outros criará na criança o desejo de querer ver mais e potencia a relação entre as suas vivências e novos conhecimentos. e leva a criança a descrever, e pensar sobre o que vê. Acredito que falar sobre imagens e ensaiar modos de ver imagens, enriquece o imaginário e desenvolve a sensibilidade estética, potencia a expressividade da criança, e ainda facilita à criança a inserção na cultura do mundo a que pertence.
Situando esta exposição no campo das chamadas pedagogias culturais, aquelas que se destacam do ensino formal importa referir também o papel da pedagogia crítica e do educador enquanto facilitador, e o interesse que teria a maior proximidade deste contexto com os contextos formais de modo a que a escola pudesse integrar nos seus currículos mais arte contemporânea, mais experimentação, logo mais pensamento crítico e mais referências culturais que desenvolvessem mais imaginação e novos movimentos de pensamento.
Quero terminar convocando Helena Almeida que pela sua obra Estudo para Dois Espaços (1977) sugere, com os seus dedos a ideia de travessia entre dois espaços. Entre cá e lá , a fronteira parece desafiadora. Não poderá a escola olhar também para o que está “ no avesso das imagens” esbatendo a fronteira?
A exposição estará aberta ao público até dia 9 de abril.
Folha de sala:
Referências
Dewey, J. (2008). El arte como experiencia. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, S. A.
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