Durante anos falou‑se da morte das subculturas, como se o mundo digital tivesse dissolvido qualquer sentido real de pertença ou identidade coletiva. Quando se observa a cultura contemporânea com mais cuidado, fica claro que acontece exatamente o contrário: as subculturas nunca estiveram tão vivas, apenas mudaram de forma. O que antes se manifestava em grupos bem definidas hoje espalha‑se por uma infinidade de estéticas e micromundos digitais que funcionam como pontos de encontro, códigos partilhados e linguagens visuais que unem pessoas que, de outra forma, nunca se cruzariam. Subculturas que antes precisavam de um bairro, de uma sala de concertos ou de uma fanzine fotocopiada agora nascem de um conjunto de imagens recorrentes, quase sempre descritas precisamente como uma “aesthetic”.
A cultura digital transforma‑se num grande laboratório de aesthetics, onde identidades são criadas, e reinventadas a um ritmo alucinante: cada nova pasta de inspiração, cada novo core batizado no TikTok, pode ser o embrião de uma micro‑subcultura.
Muitas vezes acreditamos que escolhemos livremente aquilo de que gostamos, mas o gosto vai sendo moldado por algoritmos, repetição visual e consensos silenciosos. Tendências que inicialmente nos deixam indiferentes, acabam por ganhar apelo simplesmente porque se tornam omnipresentes no feed.
A obsessão com aesthetics é, no fundo, a superfície visível desta transformação: por trás de cada estética “bonita” há um grupo, uma linguagem, uma forma de estar no mundo.
No fim, relacionar subculturas com a obsessão por aesthetics é perceber que uma coisa alimenta a outra. As subculturas contemporâneas precisam de estética para existir e circular, a cultura da aesthetic precisa de comunidades para não ser apenas consumo vazio e virar, de facto, linguagem viva.As subculturas não se extinguiram, reconfiguraram-se em ecossistemas visuais e afectivos que preservam o mesmo motor fundamental, a procura de comunidade.