‘Lindos Dias!’ (‘Happy Days’) de Samuel Beckett foi uma peça de teatro que esteve presente de 27 de abril a 7 de maio, no Teatro Municipal São Luíz, encenada por Sandra Faleiro e interpretada por Cucha Carvalheiro e Luís Madureira.
‘Happy Days’ foi escrita em 1960 pelo escritor, dramaturgo e poeta irlandês Samuel Beckett e é um exemplo de peça do movimento do Teatro do Absurdo, que desafia as convenções teatrais convencionais, apresentando personagens absurdas em situações absurdas, o que confirma o contexto em que surgiu: no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, onde o teatro reagiu à sensação de alienação e falta de sentido na sociedade, representando situações ilógicas para explorar questões fundamentais da existência humana.
Samuel Beckett é conhecido por criar peças de teatro e romances que exploram temas como a condição humana, o absurdo da existência, a solidão, o vazio e a linguagem, e caracteriza-se por um estilo experimental e minimalista, com diálogos concisos e personagens em situações muitas vezes desesperantes e cómicas. É, amplamente, considerado um dos escritores mais influentes e importantes do século XX: a sua escrita influenciou uma geração de escritores e dramaturgos, e as suas obras continuam, hoje, a ser encenadas e estudadas.
Fotografia: Estelle Valente
Uma postura que à partida nos parece cheia de esperança e alento, mesmo quando tudo à sua volta é vazio, rapidamente evolui para uma esperança algo forçada, e até preocupante, ingénua, que nos faz ter vontade de saltar para o palco e fazê-la inquietar-se com a sua situação. Por outro lado, compreensível. Para quê preocupar-me com as coisas sobre as quais nada posso fazer para mudar? Ficamos com uma sensação de impotência face ao que ali se passa, e acredito que o trauma e a devastação causados pela guerra tenham influenciado a visão sombria e absurda da vida representada na peça.
Fotografia: Estelle Valente
Algo que pontua muito a narrativa, é o sentido de humor e ironia que Cucha Carvalheiro traz na interpretação que faz de Winnie, e diz a própria numa entrevista que deu em 2018 sobre a estreia de ‘Lindos Dias!’: “o homem é o único animal que ri e ri porque tem consciência da morte”. Winnie, apesar das circunstâncias limites em que está, é uma otimista, e ensina-nos a dar a volta à fatalidade, servindo-se do humor em situações aparentemente sem esperança.
Em conclusão, ‘Lindos Dias!’ é um exemplo de arte que transcende o tempo, sendo uma peça altamente simbólica e atual, uma reflexão angustiante ou otimista sobre a condição humana, sobre a inevitabilidade da morte, sobre o estado do teatro e onde a falta de ação significativa, o diálogo fragmentado e a situação absurda dos atores desafiam as expectativas do público, estimulando uma reflexão mais profunda através do humor e ironia. ‘Lindos Dias!’ é um testemunho da genialidade de Samuel Beckett e do seu impacto duradouro no teatro e na literatura.
Fotografia: Estelle Valente
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