terça-feira, 30 de novembro de 2021

Samuel Beckett: Esvaziamento e Ressignificação

ESTRAGON:

What am I to say?

VLADIMIR:

Say, I am happy.

ESTRAGON:

I am happy.

VLADIMIR:

So am I.

ESTRAGON:

So am I.

VLADIMIR:

We are happy.

ESTRAGON:

We are happy. (Silence.) What do we do now, now that we are happy?

VLADIMIR:

Wait for Godot. (Estragon groans. Silence.) Things have changed here since yesterday.

ESTRAGON:

And if he doesn't come?

VLADIMIR:

(after a moment of bewilderment). We'll see when the time comes…

            - Excerto da peça Waiting for Godot – Parte II. Samuel Beckett 



             O trabalho do dramaturgo Samuel Beckett (n. Dublin, 1906) foi revolucionário para sua área, concebendo uma nova forma de fazer teatro. Sua excepcionalidade provém não somente da excentricidade de seus personagens e cenografias, mas da forma como linguagens corporais, imagéticas e falada são articuladas para criar um plano onde ocorre não somente uma suspensão da descrença aparentemente dificultada pela lacuna que separa cenografia e diálogo, mas uma significação dialógica baseada mais na forma da linguagem e do que em sua anunciação imediata.

Beckett joga com as palavras, ignorando convenções gramaticais, incutindo novos significados a termos quotidianos — ou engendrando termos novos —, utilizando-se da repetição exaustiva de palavras e infiltrando significados na cacofonia da repetição. O resultado é uma experiência existencialista que provoca questionamentos sobre os propósitos da existência, da condição humana, a identidade, a vida e a morte — não em seus personagens, mas no espectador violentamente confrontado com suas ânsias.

Na peça Waiting for Godot (1953) — que retrata dois personagens em sua espera por um terceiro, de nome Godot, que nunca aparece — o autor faz uso de diálogos compostos por sentenças que dificilmente possuem mais de uma linha. Os significados interiores de tais diálogos são inteiramente dependentes da interpretação externa, uma vez que são desenvolvidos à medida que corre a narrativa. A simplicidade do diálogo nesta peça é fundamental para o tipo de liberdade interpretativa que dá ao espectador: a cacofonia, a repetição, a terminologia corriqueira, todos estes elementos são mobilizados na criação de um texto tão vago quanto preciso, capaz de entregar nas mãos de quem o lê ou presencia a responsabilidade de sua significação.

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