Cheguei a esta oficina através de um livro que chegou até mim há alguns anos, o How to make books, de Esther K. Smith. A ideia de fazer um livro na sua totalidade, desde a ideia inicial até à sua concretização, edição e distribuição, é um conceito que se pode aplicar ao livro de artista, mas também aos universos de edição de autor, ou de livro como objeto-resultado educativo ou outro tipo de edições de número limitado. Dentro deste conceito escolhi explorar o lugar físico onde todo o processo acontece, sendo um exemplo disso a Purgatory Pie Press.
A Purgatory Pie Press nasce em 1977 pela mão de Dikko Faust, em Wisconsin e torna-se o projeto de vida do casal Dikko Faust e Esther K. Smith, quando ele se muda para Nova Iorque. Dikko é tipógrafo e Esther, diretora artística, juntos colaboram e criam edições limitadas, livros de artista, cartões e outros materiais impressos há mais de 40 anos, mais precisamente desde 1980, o ano em que casaram. O convite do seu casamento foi a sua primeira colaboração impressa.
Dikko estudou tipografia e tornou-se impressor tipógrafo no Center for Book Arts em Nova Iorque. Trabalha com caracteres móveis, de madeira e metal e técnicas de impressão manual. Atualmente faz parte do corpo docente da Escola de Artes Visuais de Nova Iorque. Esther edita, projeta e encaderna, conhecida pelo seu livro, How to make books, leciona sobre Livros de artista na Cooper Union.
A oficina situa-se atualmente no emblemático edifício do BAT (Brooklyn Army Terminal) antigo terminal do exército de Brooklyn que hoje em dia é um HUB criativo, mas, até há pouco, situava-se no coração de Manhattan.
https://brooklynarmyterminal.com
A oficina está equipada com todo o tipo de equipamento e materiais necessários
para o processo de fazer livros e objetos de papel. Maquinaria antiga, prensa dos anos 50, ferramentas de gravura, estantes de secagem ou uma guilhotina do final do séc. XIX. “Conseguimos quase tudo em sítios que estavam a fechar ou a mudar", diz Esther. Mas, para as conseguir gratuitamente tinham muitas vezes de as ir buscar pessoalmente aos lugares de origem, equipamentos muito pesados e cheios de acessórios que precisavam de várias viagens e muitos braços para serem transportados.
Depois de se casarem, o primeiro projeto foram agendas que ofereceram aos membros de suas famílias recém-unidas. “Não foi um presente de família muito bem sucedido”, diz Esther. “Mas as outras pessoas gostaram muito, então isso tornou-se uma parte do que fazemos.” Quarenta anos depois, fazer a agenda é uma tradição anual. Todos os anos, o casal projeta um novo livro, com uma tiragem de 35 a 40 unidades, utilizando diferentes variedades de papéis (como papel milimétrico ou mapas), fontes, dimensões e encadernações. Dikko define manualmente o tipo de cada página, com tipos de metal e madeira da sua enorme coleção, e imprime as páginas. Esther encaderna os livros.
O enorme conhecimento sobre tipos, tanto de madeira como de metal, a sua história e utilização, constituem o cerne do trabalho de Purgatory Pie Press e a sua grande especificidade. Defendem a peculiaridade do tipo real, em desfavor do informático, pelo seu corpo, textura e subtileza.
Quando começaram a colecionar tipos, a impressão tipográfica não era tão popular como é hoje entre os artistas e designers gráficos, e assim eles tiveram acesso a grande variedade de material que outros desprezavam. Outras vezes era apontado por outros impressores por usar tipos errados. Mas afinal foi essa enorme riqueza e conhecimento que moldaram até hoje a imagem da Purgatory Pie Press.
Fontes:
https://www.etsy.com/seller-handbook/article/inspiring-workspaces-purgatory-pie-press/81750446281
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