“Nem todos os livros servem para ler”
O livro de artista é um corpo sem forma fixa e em constante mudança. Não possui limites, barreiras, parâmetros ou definições concretas. Trata-se de uma obra de arte que se incorpora ao formato do livro ou, então, que faz do livro a sua base para dar vida a uma criação artística.
Quando se pensa na palavra “livro” qualquer pessoa sabe aquilo que é. Podem ser de diversos formatos (retângulo ou quadrado), para diversos públicos-alvos (novo ou adulto), com temáticas completamente distintas e com poucas ou muitas páginas, mas no fim, todos sabem facilmente identificar um e a sua utilidade. No entanto, nem todos os livros servem para ler. Quando cruzamos a vertente da leitura com a arte, o livro ganha um novo conceito. E é exatamente isso que acontece com os livros de artista de Susan Hoerth e com os livros de artista de Kelly Campbell Berry. Os livros deixam de ser meras páginas preenchidas por palavras, para se tornarem arte, neste caso, esculturas.
Ambas as artistas procuram relatar clássicas/os histórias/contos de infância, somente através das suas esculturas de livro. Isto é, reunem um conjunto de imagens através de recortes e colagens, que dão origem a uma montagem que descreve tudo o que acontece na história. Acaba por ser um pouco confuso entender e visualizar a história ou o conto na minha opinião, mas é interessante e graficamente maravilhoso ao mesmo tempo. Talvez esta grande montagem, de ilustrações simultâneas, justifique a opção por histórias clássicas, para que se consiga visualizar imediatamente a história descrita através de uma só imagem.
Susan e Kelly procuram também reutilizar aquilo que já existe, dando-lhe a possibilidade de prolongar a sua existência e torná-lo mais interessante e inovador. Isto é, dar uma nova vida a livros antigos com algum desgaste e em péssimas condições. Algumas páginas já rasgadas, outras soltas, por vezes sem conter já a própria capa, afetados pela humidade, entre outros fatores. Uma nota ainda importante à cerca dos livros a esculpir, é que estes não podem ser mesmo muito antigos pois as páginas seriam bastante frágeis para trabalhar. E outro exemplo a evitar é também os livros feitos com papel de jornal, pois o papel dobra e enruga muito facilmente.
Qual o processo para dar origem à escultura de um livro?
Primeiramente, procura-se o meio do miolo e abre-se o livro.
Retiram-se todas as partes indesejáveis, deixando presente somente as ilustrações que se pretendem utilizar. O processo anteriormente referido é aplicado às páginas que estão de frente para o público quando o livro está aberto ao meio. No caso em que as ilustrações estão no verso das folhas, ou seja, “de costas” para o público alvo, são removidas e os detalhes importantes recortados. Estes detalhes, ou seja, as ilustrações removidas, são colocadas e coladas numa nova posição para interagir com as outras peças. O livro é portanto "escavado" em torno das ilustrações desejadas.
Também acontece algumas vezes as ilustrações necessárias estarem em ambos os lados das páginas, como nos livros infantis por exemplo, e nesse caso é necessário comprar duas versões do mesmo livro para se conseguir completar a escultura.
Kelly e Susan abordam os livros de artista de uma forma bastante semelhante. De qualquer forma, os livros de Kelly são mais interessantes no meu ponto de vista, porque ela aborda livros com muita variedade de cor e cores também muito energéticas, ao contrário de Susan que utiliza essencialmente tons suaves e ilustrações mais do género vintage. Inclusive nas ilustrações sem cor, Kelly procura registar apontamentos de cor para tornar o resultado final mais interessante e comunicativo.
Exemplos de livros de Artista de Kelly Campbell Berry:
Referências:
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