"Pergunto a mim mesma: o que significa coser? Uma agulha entra e sai de algo, deixando para trás um fio: um sinal do seu caminho, unindo lugares e intenções. As coisas unidas permanecem inteiramente como estavam, apenas atravessadas por um fio." (Texto traduzido)
Maria Lai
Coser:
Do latim consuo, pelo infinitivo consuere.
1. Unir por meio do pontos dados com agulha enfiada em linha.
2. [Figurado] Chegar muito uma coisa a outra.
Maria Lai (Ulassai, 1919 - Cardedu, 2013) foi uma artista italiana única pela sua sensibilidade, curiosidade, atenção ao jogo, a relação e a participação. Durante a sua vida, explorou diferentes práticas artísticas, passando do desenho, à escultura e à pintura, ate desenvolver o seu interesse em as práticas locais tradicionais como a costura.
Nasceu a 27 de Setembro de 1919 na aldeia de Ulassai, Sardenha. Em 1932 inscreveu-se no Istituto Magistrale, onde conheceu o autor Salvatore Cambosu, o seu professor de italiano e com quem estabeleceu uma profunda amizade. Em 1939 estabeleceu-se em Roma para estudar no Liceo Artistico, mudando-se para Veneza no 1943 para frequentar a Accademia di Belle Arti com Arturo Martini, onde foi a única mulher estudante. Nos anos ’50, regressou a Roma, onde entrou em contacto com as primeiras formas de Arte Povera e Arte Conceptual. Importante foi o seu conhecimento com o autor sardo Giuseppe Dessì, que a aproximou das histórias e lendas da Sardenha.
Vou deter-me aqui na investigação e produção artística que ela começou a desenvolver por volta dos anos ’60 e ’70, período em que as suas obras se aproximaram ao mundo do artesanato e da edição, experimentando as possibilidades narrativas do livro como artefacto mas também como suporte sobre o qual convergir desenhos, signos, fios de discursos ou, literalmente, discursos de fios. Os materiais que Maria Lai utiliza são materiais pobres, utilizados principalmente na vida quotidiana, tais como pão, terracota, lã, fios, tecidos e telas.
Entre as obras deste período encontram-se a série de "Livros cosidos", livros de artista feito de fios, colagens de tecidos e bordados à máquina. A leitura destes livros não é uma leitura convencional, as linhas de texto cosidas alternam-se entre signos e palavras e os desenhos bordados dão espaço à imaginação e à descoberta. Através dos signos e caminhos traçados pelos fios, pode-se perceber o cuidado e paciência com que estes livros foram criados; os fios que atravessam as páginas da tela visualizam não só o gesto mas também a sua temporalidade.
O livro, as histórias, a experimentação, esta busca contínua de relacionamento e comunicação, caracterizam a experiência e pesquisa artística de Maria Lai: uma necessidade contínua e mutável de unir e ligar materiais, partes, práticas, mundos e experiências diferentes.
"Os livros cosidos pedem para serem tocados, folheados, página a página, para que o leitor se demore mais tempo com atenção." (Texto traduzido)
Maria Lai
Diario intimo, 1977 Papel e fio |
Sem titulo, 1978 Meios mistos sobre papel |
Livro cosido, 1979 Papel, fio e tecido |
Autobiografia, 1979 Tecido e fio sobre madeira pintada |
Emilio, 1980 Livro de artista bordado |
Livro cosido, 1982 Colagem de tecido e fio |
Curiosape, 2002 Livro de artista bordado |
Tenendo per mano il sole, 2004 Livro de artista com CD e caixa original |
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