Ganhei recentemente um exemplar do livro Poemas Envelope, da poeta norte-americana Emily Dickinson (1830-1886), lançado em julho de 2020 pela Edições do Saguão. Sem conhecer nada de sua obra, me surpreendi de imediato com a diagramação de suas páginas: além das versões originais e traduzidas dos seus poemas, foram também adicionadas as reproduções fac-símiles, conferindo uma camada intraduzível de intimidade e materialidade deste recorte singelo de poemas.
Emily publicou pouco em vida (menos de uma dezena de poemas), mas compilou sua extensa escrita em cadernos que foram chamados de fascículos, publicados depois de sua morte. No final da sua vida, deixou de organizar sua produção desta maneira mas continuou a escrever poemas, rascunhos e inúmeras cartas, dentre eles, estes Poemas Envelope escritos sobre este objeto de papel que é mais usado como invólucro de conteúdo, e não como suporte da escrita em si.
Também é interessante observar, neste caso específico, como se deu a relação entre tradução e diagramação, já que a essência dos poemas está intrinsecamente ligada ao formato dos fragmentos de envelopes, e também por isso a reprodução dos originais se justifica, adicionando uma terceira etapa no desfrute de seu universo. A etapa intermediária entre os originais mostrados e a tradução em português nos apresenta os poemas em inglês, escritos na fonte Century Gothic, com contornos dos envelopes, para ganharmos legibilidade e noção de onde cada palavra foi escrita originalmente, tarefa difícil de cumprir ao traduzir, pois a mesma diagramação espacial fica impossível, mantendo-se apenas algumas rasuras e rabiscos, mas perdendo a relação espacial no papel.
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