A exposição Indústria, Arte e Letras: 250 Anos da Imprensa Nacional a decorrer até 24 novembro no Picadeiro Real do Antigo Colégio dos Nobres em Lisboa enquadra-se no programa das comemorações de dois séculos e meio da Imprensa Nacional promovido pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM).
Dividida temporalmente em dez núcleos
divididos temporalmente (Régia Oficina Tipográfica [1768-1801]; Da Impressão
Régia à Imprensa Nacional [1802-1838]; A Era Dourada [1839-1870]; Entre Ideias
de Progresso e Sinais de Alarme [1871-1910]; Impressão Republicana [1910-1926];
Da Ditadura ao Estado Novo [1926-1945]; Reorganização [1945-1968]; Empresa
Pública e Fusão [1969-1974]; Democracia [1974- ]; Do Presente e Futuro) é
possível viajar da Impressão Régia (1768) aos nossos dias. Uma narrativa
cronológica da história da editora pública e simultaneamente de Portugal, com coordenação
científica de Inês Queiroz, num projeto expositivo de autoria do Atelier Aires
Mateus, Bianca Salmoiraghi; Gloria Binato e da FBA: João Bicker e Rita Marquito
que reproduz as antigas caixas tipográficas.
Ao longo do percurso expositivo (muito
semelhante a um labirinto) através da infografia, livros, documentos
históricos, litografias, gravuras, utensílios (punções) e máquinas de produção
(p. ex. prensas de impressão; gravação; encadernação), caixas tipográficas,
etc. é possível descobrir como se desenhavam e faziam as letras, como se fundiam
tipos, as linhas da história institucional, da escola/formação e o seu papel enquanto
agente promotor da cultura e do acesso ao conhecimento.
O design
do projeto expositivo (disposição em labirinto) apesar de facilitar a disponibilização
de mais área de parede para suporte da informação, torna-se um pouco claustrofóbico
principalmente nos núcleos cuja área expositiva, que também inclui vitrinas (p.
ex. núcleo 2, 4, 6, 9), se torna muito pequena para um grupo de quatro ou mais
visitantes. No entanto é interessante reconhecer as semelhanças entre as áreas
ocupadas pelas épocas relevantes desta editora e a dimensão dos caixotins das letras
de maior ocorrência na produção de texto.
Os vários níveis de informação disponibilizada
(título, texto informativo, citações, legendas, etc.) estão grafados em fontes
diversas, serifadas e não serifadas, cuja identificação ocorre na vertical,
imediatamente antes do respetivo texto permitindo visualizar os seus traços,
identificar as suas características, testar a sua legibilidade e conhecer os
seus criadores nacionais e estrangeiros. Do conjunto de fontes escolhidas,
verifica-se, ao longo da exposição, a opção de utilização da mesma fonte para
grafar dois níveis de informação diferentes. É o caso da tábua cronológica em fonte
Trade Gothic, de Jackson Burke,
incluída no grupo das fontes não serifadas cujos traços pouco contrastados
(grupo das Linéales de Maximilien Vox) que lhe conferem boa legibilidade. O
mesmo se verifica nas citações que aparecem grafadas em Azo Sans, fonte desenhada, em 2013, por Rui Abreu, neste caso com
destaque a vermelho, pormenor que poderia ter sido aproveitado em outras cores,
para distinguir diferente informação, garantindo sempre uma harmonia visual.
De destacar também algumas das outras fontes
disponíveis por serem consideradas de referência ou porque as suas subtilezas
estilísticas guiam o olhar para a mensagem a transmitir. No grupo das
serifadas, as fontes: Rockwel (1934)
de F. H. Pierpont; Minion (1990) de Robert Slimbach, a Filosofia (1996) de Zuzana Licko e no grupo das contemporâneas,
a fonte Antwerp (2011) de Henrik
Kubel cujo design denuncia os traços
tipográficos do séc xvi de
Christophe Plantin. Nas fontes não serifadas o destaque para que conferem boa legibilidade aos títulos e respetivos textos. As fontes: Ribeira (2013) de Carlos Daniel Santos; a Marcian Antique (2010) de Mário
Feliciano; e a Usual (2015) de Rui Abreu. Ainda a respeito das fontes escolhidas
para esta exposição e à localização da informação disponibilizada, é de salientar
o pormenor da localização escolhida para as legendas dos núcleos (parte
inferior de uma das paredes de cada núcleo) que, apesar de grafadas em Bebas Neue (caraterizada por traços
finos, limpos, formas elegantes e boa legibilidade) e da sua grandeza
materializada no corpo escolhido, a localização das mesmas não facilita a sua
visualização imediata o que de certa forma se poderia refletir no correto
percurso a fazer apenas salvaguardado pela orientação do circuito em labirinto.
Em síntese, viajar por esta exposição,
para além proporcionar a oportunidade de conhecer a história da INCM ao longo
dos últimos 250 anos de atividade, revela-se um excelente exercício de
aprendizagem sobre tipografia, fontes tipográficas, suas características
estilísticas, leiturabilidade e legibilidade.
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