quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Martin Parr e a exposição “A Place In The Sun” na Barbado Gallery

© Martin Parr | Benidorm, Spain, 1997 | série "Benidorm"

Martin Parr é um fotógrafo inglês, nascido em Epsom, Surrey, no ano de 1952 e foi presidente da agência Magnum entre 2013 e 2017. O seu interesse pela fotografia foi em muito influenciado pelo seu avô, George Parr, também ele fotógrafo. Com ele, efectuava longos passeios ornitológico na sua região natal, com quem terá adquirido os princípios básicos que lhe permitiram prosseguir a sua paixão pela fotografia documental, sendo ela um exemplo da evolução do mundo e da sociedade assente no princípio que oscila entre o instantâneo e a narração.

Mais tarde, Martin Parr entendeu definir o objecto da sua investigação. Deste modo, iniciou o seu trabalho documentando as pessoas que visitam, em dias de sol, as praias mais “populares”, sobrelotadas e decadentes da área de Manchester. Uma vez especificado o território, o “meio ambiente” onde se desenrola esta pesquisa, evita intervir o objectivo de não perturbar a cena.

Aproveita todas as fontes do riso, da comédia e até mesmo do absurdo de que se apercebeu numa sociedade inglesa dos anos 80, onde as classes sociais ainda estavam particularmente estratificadas, não obstante a sua progressiva degradação.

A escolha de férias à beira-mar não é inocente, na medida em que faz contrastar a ideia de felicidade, sol, mar e praia com a realidade por vezes sórdida das multidões, do barulho e da sujidade. Esta movimentação humana estival é comparável à das aves migratórias que chegam com os dias ensolarados.

© Martin Parr | Lake Garda, Italy, 1999 | série "Lake Garda"

Se Martin Parr pretende fazer-nos sorrir ou mesmo rir, não revela qualquer maldade gratuita. As suas fotografias apresentam apenas as ocorrências, as situações caricatas, as associações de ideias ou personagens, mas especialmente aquele pequeno grão de areia que desliza na história, a discrepância entre a felicidade imaginada e a triste realidade, que faz pender a imagem para o absurdo. É assim que o banho de mar no menino com que havia sonhado o ano inteiro é poluído por lixo acumulado na praia, o banho de sol do banhista é ameaçado pela máquina escavadora incongruente que parece querer esmaga-lo e os óculos azuis de cabine de bronzeamento permanecem irrelevantes na praia…


© Martin Parr | New Brighton, England | série "The Last Resort, 1983-85"

E, para sublinhar o seu propósito, o artista manipula brilhantemente a sua paleta de cores, frequentemente saturadas e por vezes de forma excessiva e improvável, utilizando “flash” durante o dia. Desta maneira, transforma o detalhe anedótico em grandioso e chama a nossa atenção para as pequenas banalidades da vida quotidiana.

Parr apresenta, deste modo, a sua primeira exposição individual em Portugal na Barbado Gallery, que inaugurou sábado, dia 12 de Setembro de 2015. “A Place In The Sun” mostra o trabalho que o fotógrafo realizou de 1985 até então, sempre de máquina em riste e com os pés enfiados na areia. Foram expostas fotografias de 25 séries, de variadas partes e zonas balneares do mundo, onde podemos observar um elogio ao “kitch” e a já referida exposição do quotidiano.

© Martin Parr | Hua Hin, Thailand, 2012 | série "Life´s a Beach"

O espaço da Barbado Gallery é bastante amplo e acolhedor, com o chão em madeira. A sua iluminação é sóbria, contudo as obras estão bastante bem destacadas pela luz dos focos situados por cima de cada moldura, o que propicia uma melhor relação com o observador. A visita inicia-se no átrio da galeria, onde podemos observar uma imagem de um cão com óculos de sol, que faz parte da colecção pessoal do galerista João Barbado, bem como de uma imagem de uma praia sobrelotada. Entrando pelo corredor, observam-se algumas imagens deste trabalho de ambos os lados, dando acesso a uma última ala onde estão colocadas as imagens mais significativas do projecto. Nesta última sala, encontramos uma parede pintada de amarelo enquanto que as restantes de cinzento escuro, o que dá mais dimensão às imagens e aos contrastes nelas utilizados.

A experiência torna-se única especialmente pela exaustiva explicação, disponibilidade e agradável recepção do dono da galeria, João Barbado, que conta com a companhia do seu cão Fox, o que nos faz sentir em ambiente familiar, como que nos sentíssemos em casa.




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