No dia 22 de Outubro pelas 15h00, no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa, o colectivo Artéria, organiza num lugar muito especial - o atelier BarbasLopes - uma conversa sobre o irrequieto arquitecto Cedric Price (1934-2003), aproveitando o lançamento do livro (Cedric Price Works 1952-2003 A Forward-Minded Retrospective) pela Architectural Association juntamente com o Canadian Centre for Architecture, onde é publicado praticamente todo o arquivo existente do arquitecto, recolhido pela investigadora e curadora Samantha Hardingham.
Cedric Price estudou nos anos 50, na AA, e abriu o seu atelier nos anos 60, onde acabou por produzir os mais criativos e intensos projectos experimentais do final do século XX. O seu trabalho é fundamental na definição do discurso arquitectónico à volta dos emergentes temas do pós-guerra de mobilidade e instabilidade do design.
Conversas informais, num lugar propício à criação e debate, fala-se de um arquitecto tão relevante para a sua altura como para a actualidade. Cedric Price, infelizmente, longe dos programas actuais de ensino das faculdades de arquitectura, será uma figura fundamental, não propriamente pela sua obra construída, mas pela influência clara no que viria a ser a arquitectura contemporânea. Arquitecto, professor, pensador, Hans Ulrich Obrist chamar-lhe-à o Marcel Duchamp da arquitectura. Questiona o edifício ícone, denominando-o como consolidação de um poder. Propõe intervenções adaptáveis e temporárias, defendido no seu admirável projecto do Fun Palace. Que viria a ser um projecto fundamental do séc. XX. Um projecto de 1961, desenhado com uma estrutura de open-plan para permitir a criação de um lugar flexível, que veio a influenciar directamente Richard Rogers e Renzo Piano para o Centro Pompidou em Paris. Cedric, com o seu Fun Palace, admiravelmente “antecipou a ideia de internet, participação, feedback”, defende Obrist e profundamente discutido durante esta agradável tarde.
Cedric Price, Fun Palace. Courtesy of CCA |
O seu pensamento visionário contribuiu para desenvolver novas filosofias sobre arquitectura, tempo e espaço na cidade. A forma já não deveria ser estática mas sim alterada pelas mudanças sociais, económicas e culturais das novas sociedades dinâmicas, mantendo a arquitectura no centro de todas as discussões e influências para uma sociedade melhor. A cidade deixa de ser pensada como um sistema rígido de grelhas estabelecidas e programas urbanísticos profundamente fechados e rígidos mas sim como uma série de sistemas instáveis, em constante transformação, que se vão reorganizando e arrumando eles próprios no processo de expansão e retração. O movimento e a velocidade tornam-se temas arquitectónicos e fundamentais para que a arquitectura continue figura central nas questões sociais e políticas do mundo.
Durante a tarde foram apresentados várias investigações de Isabelle Doucet, Samantha Hardingham, Tanja Herdt, Jim Nojo e Ben Sweeting, sobre diferentes projectos que exemplificam os pensamentos de Cedric e ainda contámos com a presença da autora do livro e do Director do CCA para um debate final.
Numa altura em que será tão urgente discutir a cidade como o era num pós-guerra, a conclusão a que se chega no debate aberto e informal com os presentes (arquitectos, a artistas, filósofos a cidadãos preocupados com a cidade) enquanto se molha a garganta seca de tanto falar, é que Cedric não poderia ser mais actual e que certamente é uma grande falha não fazer parte dos estudos académicos e dos estiradores de tantos arquitectos. E que a arquitectura deveria ser discutida assim, com uns óculos estranhos , em lugares simbólicos e emocionais e sobretudo informalmente e livre.
Espera-se que encontros como este se repitam e que sejam trazidos de volta temas tão importantes e tão actuais.
Desta tarde, fica ainda o livro imenso (5kg) dividido em 2 volumes, à venda pela Livraria A+A, que vale bem a pena ir até lá só para o folhear.
Imperdível.
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