domingo, 3 de janeiro de 2016

Um fotógrafo com nacionalidade incerta.


RETROSPECTIVA.

JOSEPH KOUDELKA | FOTOGRAFO

12 setembro | 29 novembro | 2015
Fundación Maphre | Madrid
Calle Bárbara de Braganza, 13.
28004 - Madrid.


Esta exposição é organizada conjuntamente pela Fundación Maphre, The Art Institute of Chicago e The J. Paul Getty Musseum. A retrospectiva é a mais grande realizada sobre o fotógrafo Joseph Koudelka até o momento.


Joseph Koudelka nasceu em Morávia (Checoslovaquia) no ano 1934. Engenheiro aeronáutico de profissão, começou a trabalhar com a fotografia nos anos sessenta, chegando a ser um dos fotógrafos mais importantes da sua geração. Desde o ano 1971 é fotógrafo da prestigiosa Agência Magnum, uma das agências de fotojornalismo mais importante do mundo.
 
Esta retrospectiva está formada por aproximadamente 150 obras. Desde os seus primeiros projetos experimentais realizados a finais da década dos 50, passando por as famosas series de ciganos, invasão e exílios; é também os seus últimos trabalhos sobre paisagens. Além disso, também podemos ver outros materiais que mostram o processo criativo deste artista: maquetas, folhetos,...Suas imagens têm um caráter teatral importante. Os protagonistas das suas fotos parecem colocados num escenârio, como se fossem atores que representam a “função da vida”.
 
Figura 1: Entrada Fundación Maphre.
(Fonte prôpia)

Iniciamos o recorrido pela exposição olhando pelos seus primeiros trabalhos. Estes começos estão basados em uma fotografia de carácter experimental. Em eles Koudelka experimenta fundamentalmente as possibilidades que nos oferece trabalhar com profundidades de campo muito pequenas para construir um mundo de abstrações, onde a imaginação e a plasticidade que consegui mostram-nos um fotógrafo com muito talento.

Figura 2: Trabalhos experimentais.
(Fonte prôpia)

Figura 3: Josef Koudelka, "Checoslovaquia", 1960.
(Fonte: Magnum photos)
Dentro dos seus primeiros trabalhos também encontran-se fotografias que fez do mundo do teatro. Imagens com um carácter teatral cheias de plasticidade. Estas obras constituem uma transição de sua fotografia experimental para uma fotografia documental com o qual ele se tornou famoso.

Figura 4: Trabalhos do mundo do teatro.
(Fonte prôpia)

Figura 5: Josef Koudelka, "Uma hora de amor de Josef Topol", 1968.
(Fonte: Magnum photos)
A continuação vemos as imagens de um dos trabalhos mais conhecidos dele, a serie “Gypsies”. Ao principio este projeto começou como um pequeno projeto artístico, mais finalmente se converteu em um projeto de vida. Joseph Koudelka fotografou durante aproximadamente 20 anos acampamentos ciganos na este da Europa. Estas imagens destacam pela sua teatralidade, e nos mostram a maneira de vida de este coletivo étnico. Esta série foi exposta por primeira vez em 1967 (Prague), e com este projeto consegue os seus primeiros prêmios e reconhecimentos.  


Figura 6: Trabalhos da serie "Gypsies".
(Fonte prôpia)

Figura 7: Josef Koudelka, "Romênia", 1968. Da série Gypsies.
(Fonte: Magnum photos) 


Figura 8: Josef Koudelka, "Eslováquia (Jarabina)", 1963. Da série Gypsies.
(Fonte: Magnum photos)
Entre ou 21 e 27 de agosto de 1968 os países que formaram o Pacto de Varsóvia (liderado pela URSS) invadiram a cidade de Praga. Joseph Koudelka documentou isto como um manifestante mais. As fotografias mostram a resistência não-violenta de uma cidade, protestos com tanques, os manifestantes silenciosamente enfrentando-se aos soldados armados,... Por medo de ter problemas ele firmou este trabalho como P.P (Prague photographer). No ano 1984 posso reconhecer a autoria deste projeto.



Figura 9: Trabalhos da serie "Evasão".
(Fonte prôpia)



Figura 10: Josef Koudelka, "Cidadão checo em um tanque", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)  


Figura 11: Josef Koudelka, "Dois cidadãos checos com uma bandeira", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)


Figura 12: Josef Koudelka, "Mão e relógio de pulso", 1968. Da série Evasão.
(Fonte: Magnum photos)







Desde 1970 até 1990 Koudelka teve que viver fora do seu país pela entrada do exército da URSS na cidade de Prague. Ele viveu uma vida nômada, sem um pais, poderíamos falar que com uma “nacionalidade incerta”. Podemos observar essa sensação em uma frase do prôpio Koudelka na exposição, onde falava que ele era “estrangeiro em todos os lugares, mas um estranho em nenhum lugar”. Ele viveu em muitos países (França, Espanha, Inglaterra,...) até que em 1990, um ano depois da queda do Muro de Berlim, ele poso voltar a Prague. Esta vida de nomadismo, de no pertencer a nenhum lugar, forma parte de um dos seus projetos mais conhecidos: “Exile”. Em ele se manifesta a solidão do ser humano e a grande vantagem que Koudelka consegue com esta situação, a conquista da liberdade desde um punto de vista fotográfico.


Figura 13: Trabalhos da serie "Exílio".
(Fonte prôpia)

Figura 14: Josef Koudelka, "França", 1976. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)
Figura 15: Josef Koudelka, "Checoslováquia", 1968. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)

Figura 16: Josef Koudelka, "França", 1987. Da série Exílio.
(Fonte: Magnum photos)



Desde o ano 1980 Koudelka começou a trabalhar com paisagens panorâmicos na sua obra. Nestos trabalhos as pessoas vão desaparecendo, embora a sua marca ainda está presente. Fotografias que nos mostram a solidão da terra abandonada, a violência do ser humano,...



Figura 17: Últimos trabalhos sobre paisagens panorâmicos.
(Fonte prôpia)
Figura 18: Josef Koudelka, "Beirut (Líbano)", 1987. Da série Caos
(Fonte: Magnum photos)

Figura 19: Josef Koudelka, "Jordania, (Ammán)", 1987. Da série Arqueologia.
(Fonte: Magnum photos)
Figura 20: Josef Koudelka, "Beirut (Líbano)", 1987. Da série Caos
(Fonte: Magnum photos) 
Podemos afirmar sem medo a equivocarmos que a fotografia de Koudelka é uma arte pura, autêntica,....é voltar a uma essência da fotografia que parece que nos nossos dias esta esquecida. Uma imagem vale mais que mil palavras, sua fotografia não precisa textos, base teórico,...esse é em definitiva o verdadeiro valor da sua obra. A fotografia contada pela fotografia, sem aditivos poluentes que muitas vezes só ajudam a promover a banalidade da fotografia “per se”.


Outra ponto a considerar é que mesmo que sejam 150 fotografias, a retrospectiva faz-se curta. Koudelka têm muitas mais fotografias das aqui mostradas na exposição que podem ser consideradas “máster pieces”. A Fundação Maphre fez um grande trabalho, mas o estudioso da fotografia acha que a retrospectiva ainda poderia ser melhor. Estamos falando dum fotografo ao nível de Robert Capa, Cartier-Bresson, William Klein, Eugene Smith,... Muitas grandes fotografias de Koudelka não são mostradas nesta exposição.  


Já para concluir, falar que a obra de Koudelka é uma constante reflexão sobre a solidão, o desenraiamento e o isolamento do ser humano. Atualmente, Joseph Koudelka é sem dúvida uma das mais grandes lendas vivas da fotografia.





  

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