terça-feira, 3 de junho de 2025

Caricatura Museum Frankfurt: onde a Banda Desenhada Se Levanta e Diz: Eu Também Sou Arte

   Durante uma viagem a Frankfurt, entre cafés, cadernos e mapas improvisados, tropecei quase por acaso num dos lugares mais surpreendentes que já visitei: o Caricatura Museum, dedicado à banda desenhada, à caricatura e ao desenho humorístico. O que esperava ser apenas uma pausa leve na programação revelou-se uma das experiências artísticas mais marcantes da minha vida — um verdadeiro abanão nas ideias que ainda carregava sobre o que “conta” como arte séria. Esta recensão nasce desse momento de encantamento e desprogramação.




    O Caricatura Museum Frankfurt, ou Museum für Komische Kunst, revelou-se para mim uma experiência absolutamente inesperada e revigorante. Entrar neste espaço dedicado à caricatura, à banda desenhada e ao desenho humorístico foi como atravessar um portal sensorial e estético que abalou conceções antigas sobre o estatuto da banda desenhada nas artes visuais.





    Apesar de o nome poder sugerir algo leve ou menor, este museu mostrou-se um verdadeiro “baú cheio de truques”, como se lê na sua apresentação oficial. A coleção permanente reúne os cinco pilares da chamada “Nova Escola de Frankfurt”: F. W. Bernstein, Robert Gernhardt, Chlodwig Poth, Hans Traxler e F. K. Waechter. A sua obra conjunta, que oscila entre o absurdo, o político e o existencial, é apresentada com grande dignidade museográfica, desafiando a ideia de que o humor gráfico é menos sério do que outras formas de arte.

    Mais do que uma galeria de banda desenhada, o espaço surpreende pelo diálogo que propõe entre diferentes meios artísticos. As exposições que vi não se limitavam ao papel: encontrei pinturas de grandes dimensões, esculturas e até instalações que incorporavam elementos narrativos e satíricos. Esta diversidade causou-me um verdadeiro “momento aha”, pois confrontou diretamente o preconceito ainda enraizado em mim de que o artista de banda desenhada estaria confinado ao suporte bidimensional e a um estatuto “menor” dentro das belas-artes.



    O ambiente do museu favorece uma fruição descontraída mas intelectualmente estimulante. A montagem é clara, acessível, mas cuidadosamente curada para criar narrativas visuais envolventes. As exposições temporárias, que incluem nomes contemporâneos do desenho cómico, ampliam ainda mais a perceção de que este género está em constante mutação, enraizado na atualidade.

A minha visita foi marcada por um sentimento profundo de identificação: como artista visual com uma prática que atravessa a ilustração, a escrita e a narrativa, senti que ali cabiam múltiplas versões de mim. Senti também que este museu legitima o humor como forma de pensamento e resistência – e que o desenho cómico é, afinal, uma arte política, íntima e altamente sofisticada.

O reconhecimento que o museu recebeu em 2020 com o Prémio Cultural do Estado de Hesse confirma a importância do seu contributo singular para a valorização da banda desenhada e da caricatura como formas plenas de expressão artística.