Como seguidora e leitora assídua da Time Out, deparei-me com esta exposição da UCCLA (União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa), que, juntamente com o CCCV (Centro Cultural de Cabo Verde), criou uma emblemática exposição que celebra os 50 anos do 25 de Abril e a liberdade artística.
Esta é composta por duas partes, uma presente na UCCLA e outra, mais pequena, no CCCV. Infelizmente, não tive oportunidade de ver a segunda parte; no entanto, a primeira fala, a meu ver, por si só.
Numa única sala estavam expostas 25 obras, incluindo fotografias, quadros, tapeçarias e diversas instalações de autores mundialmente conhecidos, como Joana Vasconcelos, Alfredo Cunha, Alexandre Farto, entre muitos outros.
A obra que me impactou mais foi, sem dúvida, a mesa de Vasco Araújo. A mensagem que está escrita na mesa é de arrepiar, mas nada se comparou quando vi o seu nome. “O inferno não são os outros”.
No fim do dia, fui pesquisar mais sobre o título e deparei-me com algo fascinante: o título que o autor escolheu para esta obra, é na minha perspetiva, a negação da obra escrita pelo filósofo e dramaturgo Jean-Paul Sartre para uma peça de teatro. A ideia que Sartre quis transmitir com esta peça, sobre três pessoas – duas mulheres e um homem – que se encontravam presas entre quatro paredes, é que com o passar do tempo, essas personagens começam a apontar nos outros todos os defeitos, todas as falhas, tudo o que o outro faz e tem de errado. É no meio do caos causado por eles próprios que se apercebem de que estão no inferno, o seu inferno. E, para finalizar, o que Sartre quis afirmar ao dizer “o inferno são os outros” é que na relação com os outros não assumimos a responsabilidade do que fazemos. Por oposição à obra de Vasco Araújo que espelha o inferno efetivamente causado pelos outros (consequência de uma violação). O inferno é a própria existência.
Numa nota mais leve, outras obras que se destacaram foram a Golden Mount de Joana Vasconcelos, um conjunto de almofadas com tecidos coloridos, padronizados e apontamentos em dourado, demonstrando a riqueza dos tecidos indianos; As instalações de Cristina Ataíde, Mountain House #12 e #15, (a casa da montanha). Estas são duas estruturas de mármore branco, lindas, com uma “entrada” simbolizando a tal casa e açafrão da Índia representando o areal da montanha. São ambas pequenas, mas ao mesmo tempo de grande escala, se compararmos o tamanho das portas e a grandiosidade da estrutura.
Muitas outras cativaram a minha atenção. Cada uma conta uma história, cada uma mostra como a liberdade que o 25 de Abril de 1974 trouxe a Portugal e a todos os países de língua portuguesa fez, faz e continuará a fazer da arte a melhor forma de expressão que, não só os artistas, mas todo e qualquer ser humano, têm à sua disposição!
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