Mater - Maja Escher, Marta Castelo e Virginia Fróis
Ao deambular pelo jardim do Museu de Lisboa, entre a vegetação e a grandiosidade do edifício, deparamo-nos, quase de repente, com o Pavilhão Branco. O Pavilhão Branco, como que submerso pela vegetação envolvente do jardim, chama desde logo à atenção pelo contraste da sua arquitetura moderna com a arquitetura do Museu.
No seu interior, encontramos a exposição coletiva Mater que, tal como o seu nome indica, desenvolve- se em torno da matéria - sendo esta, neste caso, apresentada em formato de barro ou argila.
Mater representa um continuo dialogo entre o passado e o presente da matéria, entre as suas possibilidades e utilidades no dia a dia da sociedade, - é exposto um retrato mais contemporâneo no que toca ao uso destes materiais. O barro/argila começa a ter um maior destaque na contemporaneidade artística, e esta exposição pretende projetar essa mesma potencialidade.
A exposição foi desenvolvida numa co-produção entre as Galerias Municipais/EGEAC e a associação cultural Oficinas do Convento, integrando o trabalho de Maja Escher, Marta Castelo e Virginia Fróis, com a curadoria de João Rolaça.
Os trabalhos das três artistas conectam-se pelo uso de materiais naturais e por várias relações entre as suas investigações e desenvolvimentos conceptuais.
De seguida, irei fazer uma breve apresentação sobre cada uma destas artistas, de forma a explicar estas mesmas ligações e conexões entre as autoras, o espaço, as Oficinas do Convento, de forma a compreender o intuito, ou melhor, a necessidade/intenção por detrás de Mater.
Maja Escher embora tenha concluído os seus estudos, com a licenciatura de Audiovisuais e mestrado de Arte Multimédia, ambos realizados na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, o seu trabalho aborda temáticas e desenvolve-se num âmbito distante destas correntes artísticas.
A sua obra orienta-se em torno de formatos como a escultura - em particular o uso da cerâmica - e a instalação/site-specific (Maja Escher: Anozero'21 2022).
Escher, desenvolve uma investigação sobre os lugares que nos representam, o abrigo/ a casa. A sua obra está intrinsecamente ligada aos conhecimentos que adquirimos, e aos que nos são passados — às relações que criamos e a aprendizagem que delas retiramos; assenta também em ideias relacionados com sistemas ritualísticos, extraindo uma dimensão xamanica às suas obras. Apropriando-se de materiais recolhidos e / ou doados, produz instalações com uma dimensão política e de protesto, à semelhança das outras duas artistas, Marta Castelo e Virginia Fróis, a sua relação com a terra (como matéria e espaço) está muito presente no seu trabalho.
Participou numa residência nas Oficinas do Convento, onde aplica e “constrói sistemas ritualísticos em forma de manifesto e mobilização comunitária, onde trabalha o que é comum e vital no Baixo Alentejo - a sua terra - sublinhando a urgência de uma regeneração ecológica, do desenvolvimento de comunidades e economias locais, solidárias e de cooperação e a sua importância para a vida e permanência das pessoas naquele território”1.
Virginia Fróis, escultora e professora na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, desenvolve um trabalho artístico focado no âmbito da cerâmica, expondo com regularidade tanto em Portugal como no estrangeiro. Em 1996, Fróis, funda a Associação Oficinas do Convento, situada em Montemor-o-Novo.
No contexto da exposição, o trabalho de Fróis destaca-se com facilidade, o uso de materiais naturais (tal como o barro, ou até a cera de abelha) procura transmitir ou fazer contemplar a “experiência sensitiva na natureza”, como uma conversa aberta entre o mundo exterior e o interior, entre o espaço dentro da galeria e o jardim no exterior, entre as obras em si e a sua autora (Rolaça 2023).
Marta Castelo, licenciada em Artes Plásticas - Curso de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, desenvolve, também ela, um trabalho ligado à plasticidade da matéria usada. O seu trabalho integrado em Mater ocupa-se em explorar os diferentes estados da matéria - entre o barro cru e o cozido, entre as suas formas orgânicas e os seus contornos mais rígidos e severos. De certa forma o uso do “tijolo” na sua obra cria também um paralelo com as das duas outras artistas, ao explorar a ideia de “espaços de existência” e da sua conjugação com o ambiente despido da galeria, e a exploração e construção do espaço de abrigo (Rolaça 2023).
Por fim é importante referenciar as Oficinas do Convento, como espaço de produção e investigação de cerâmica na cidade de Montemor-o-Novo, que liga o trabalho destas três artistas, não só no contexto desta exposição como no enquadramento dos seus percursos laborais (tendo tanto Castelo como Escher realizado residências neste espaço cultural). Desde 1996, a associação procura dinamizar o que se desenvolve no campo da cerâmica, criando conexões entre a paisagem e a comunidade, realizando projectos individuais e colectivos, que se enquadram na estética que se tem desenvolvido ao longo dos anos neste espaço (Rolaça 2023). E se nos perguntar-mos o que as liga, podemos sempre, resumir com sendo a Matéria. A argila como matéria de produção de grande parte dos produtos romanos, estes que são estudados, explorados e recreados ou re-imaginados pela três artistas numa imagem da matéria adaptada para um olhar contemporâneo nunca perdendo a influência do passado. As três artistas encontram-se num espaço de abrigo, entre a “sua dimensão poética e simbólica”, pensando em novos sistemas para refletir sobre o património, o território, e construção do presente e futuro.
Bibliografia:
Mater (2023) Galerias Municipais de Lisboa. Disponível em: https://galeriasmunicipais.pt/exposicoes/ mater/ (Acedido a: 30 Maio 2023).
Maja Escher: Anozero’21 (2022) Anozero ’21-’22. Disponível em: https://21-22.anozero- bienaldecoimbra.pt/artists/maja-escher (Acedido a: 04 June 2023).
Webgrafia:
https://www.museuolaria.pt/wp-content/uploads/2020/01/GUIZOS.-Virg%C3%ADnia-Fróis.pdf https://www.pin.pt/index.php/exposicoes/673-virgnia-fris https://galeriasmunicipais.pt/exposicoes/mater/ https://galeriasmunicipais.pt/wp-content/uploads/2023/03/GM_PBranco_Mater_folha-de- sala_pt_site1.pdf https://www.belasartes.ulisboa.pt/mater-exposicao-de-maja-escher-marta-castelo-e-virginia-frois/ https://21-22.anozero-bienaldecoimbra.pt/artists/maja-escher https://www.majaescher.com/abrigo-primeira-tentativa-de-construir-uma-casa-2010 https://www.worlding.org.uk/guests/maja-escher/ https://www.museuolaria.pt/wp-content/uploads/2020/01/GUIZOS.-Virg%C3%ADnia-Fróis.pdf https://vicarte.org/virginia-frois/
https://www.pin.pt/index.php/exposicoes/673-virgnia-fris http://marta-castelo.blogspot.com/p/textos.html https://vicarte.org/marta-castelo/
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