quinta-feira, 19 de maio de 2022

A Outra Vida dos Animais

A exposição A Outra Vida dos Animais, com a curadoria de Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), conta com obras de desenho, pintura, fotografia, escultura, instalação, vídeo e media art de diversos artistas. 


Disponível no MNAC de 5 de maio a 28 de agosto de 2022, a exposição conta com o mecenato da Fundação Millennium bcp e dirige-se a um público infantil onde, no entanto, todas as idades são bem-vindas. Está patente ao público das 10h às 13h e das 14h às 18h todos os dias da semana à exceção de segunda-feira.


Ao entrar na primeira sala de exposição deparamo-nos de imediato com sons da natureza, os quais produzem um efeito imediato no visitante.

Num primeiro impacto, observa-se a fotografia de um Francelho, algures na Ilha de São Vicente em Cabo Verde.


 

Ouvindo a media art de Júlia Lema Barros que mais à frente, se nos depara numa sala escura, a pintura a óleo sobre tela de Ema M de um coelho e de um caracol metamorfoseiam-se noutros seres vivos. 

 



É uma imersão que se primeiramente assusta o expectador, de seguida o convida ao mundo do sonho. Remonta a um tempo em que à noite, deitados na cama, escutamos os sons dos grilos lá fora, vislumbramos as silhuetas dos morcegos que parecem querer transformar-se... 

 

São sons familiares que nos querem teletransportar à nossa infância. Que nos questionam de novo sobre como funcionam os cérebros destes animais e que parecem querer transmitir algo na sua própria linguagem.

 

É nesta viagem que se sucede o quadro de Júlio Pomar em que um tigre ruge um som inaudível que ressoa interiormente a nossa natureza mais selvagem e ousada. As pinceladas surgem livres e o aspeto mais definido é o olhar e a boca aberta. Este representa o medo do desconhecido em que a pergunta que surge no catálogo de visita nos questiona sobre que vida secreta criaríamos nós para este tigre?


 

Continuando a caminhar, a segunda sala de exposição oferece novas perspetivas sobre o mundo animal. No entanto, é na sala que se segue que Henrique Pousão expõe num óleo sobre madeira, uma Cabeça de boi, elaborado numa técnica arrebatadora. Obra esta que, ladeada por outros quadros de gado, remonta a uma pastorícia antiga, mas que ainda hoje é tão presente na paisagem de Portugal. 


 

No mesmo instante, já se ouvem novos sons da sala ao lado. São vozes de crianças que nos interpelam e conduzem a uma última sala escura. No ecrã um vídeo HD, em stereo sound de sete minutos encerra a exposição num No ordinary protest de Mikhail Karikis. 

 

Neste vídeo as crianças encontram-se de olhos fechados. Ouve-se um diálogo:


- She hears noises...


It’s the cries of the creatures.


- Where are they?


- They’re everywhere…


- What happened?


- Grown ups poisoned everything.


- And the children?


- She gave them the power of the noise. 

O diálogo termina e as crianças cantam. As suas vozes clamam em uníssono:


Justice!!!


- Creatures!!!


- Power!!!


- Action!!! 


As crianças rastejam mascaradas, ao som de zumbidos e sons arrepiantes da natureza.

 

Este protesto nada comum instiga à mudança. São pequenos ativistas que nos fulminam ora com o seu olhar, ora com o seu diálogo. “Podem as crianças mudar a forma como pensamos sobre a justiça entre as espécies? Podem criar mudanças sociais globais? Se fossem super-heróis qual seria o seu super poder?”, estas são algumas das questões que Mikhail Karikis nos coloca.

 



Na minha opinião a exposição coloca-nos no cerne principal de uma questão fundamental dos nossos dias: Qual a Outra Vida dos Animais?

 

Através das várias obras expostas e ao som dos mais diversos animais, somos levados a reconhecer a natureza da vida, isto é, a qualidade da vida dos animais que vingam no planeta Terra apesar de tantas contrariedades. 

Sem comentários:

Enviar um comentário