domingo, 28 de novembro de 2021

O despovoamento da aldeia mais portuguesa de Portugal

 

  




Um livro de artista, em que o tema central é o despovoamento, que tem vindo a acontecer a algumas Aldeias Históricas pelo nosso país fora. Neste projeto, quero abordar a desertificação da Aldeia velha de Monsanto e a minha contribuição como tantos outros filhos, ou netos da Aldeia, que acabam por mais cedo ou mais tarde, se desligar, se desconectar com as suas raízes. Estas gerações cresceram e formaram as suas famílias nas cidades e já não se identificam com a Aldeia, e quando a família acaba por desaparecer, perde-se assim a vontade de a visitar, as casas e as propriedades acabam por se vender ou ficar ao completo abandono.

Monsanto, uma Aldeia esquecida no tempo, onde apenas restam poucos habitantes, que vivem ali permanentemente. Turistas são muitos, sobretudo os espanhóis vão visitar Monsanto. 

Monsanto pode-se considerar como um pequeno paraíso da paisagem beirã, tem pequenos terraços encavalitados entre as casas de granito da aldeia, a partir dos quais se visualiza uma paisagem deslumbrante ao mesmo tempo que misteriosa, ali destaca-se o Castelo, localizado no cume do cabeço, e a sua alcáçova, mas também a paisagem urbana que desce em cascata a encosta Norte, denominada de Aldeia Velha de Monsanto, com ruas estreitas e emaranhadas, é composto por cerca de 260 edifícios que, por vezes, utilizam os grandes penedos graníticos como paredes ou coberturas das casas, algumas delas em mau estado ou até em ruína.

Em 2011, residiam em Monsanto cerca de 100 habitantes, tendo-se registado um decréscimo populacional na última década de cerca de 24% entre 2001 e 2011. A população de Monsanto, caracteriza-se por um elevado índice de envelhecimento (na faixa etária de 65 ou mais anos encontram-se 57 pessoas (censos, INE).
A Aldeia está prestes a perder a sua cultura e as suas tradições, pois quem ficou está cada vez mais velho e quem foi embora já não volta. Dizem os poucos residentes que antigamente não havia porta que não tivesse gente, agora morre uma pessoa e a porta já não se abre mais. Se por um lado se assiste ao envelhecimento da população e a um grande défice na reposição geracional, por outro, a fraca oferta de emprego, o baixo empreendedorismo, os níveis críticos de infraestruturas e serviços e a redução da atividade económica, obrigam a população a migrar, o que resulta na perda de capital humano. 

Em 1938, Monsanto ganhou o Galo de Prata, galardão que a distinguiu como “a aldeia mais portuguesa de Portugal”, e em 1995 classificada como “Aldeia Histórica”,  em consequência da sua singularidade.
Desde 1995, devido ao carácter único da sua identidade histórica, cultural e arquitetónica, Monsanto é considerada uma das aldeias históricas de Portugal, sendo uma das maiores atrações turísticas da região.

A Aldeia de Monsanto, onde os meus pais nasceram, e onde eu passei momentos da minha infância, durante as férias escolares ou essencialmente em alturas que a presença dos meus pais era necessária para a vindima, a apanha da azeitona, a matança do porco, etc. Estes períodos exigiam mão de obra intensa afim a manter a tradição e o sustento dos mais velhos, que ainda ali viviam.

Em 2021, as suas tradições e culturas estão mais ténues do que nunca, devido à pandemia, não existem turistas, não existem as festas habituais, e os residentes já se encontram a maioria em Lar.  Existem poucas mulheres a tocar o Adufe, um instrumento muito típico desta região, as marafonas, as bonecas típicas, simbolizam a Deusa da Fertilidade e era costume colocar a marafona em cima da cama dos casais recém-casados para lhes dar sorte, hoje em dia já não há casamentos na Aldeia.

Neste contexto, daqui a mais uma década, Monsanto se encontrará transformada numa aldeia Museu.

https://www.e-cultura.pt/artigo/19283
https://aldeiashistoricasdeportugal.com/en/aldeia/monsanto/
https://ncultura.pt/monsanto-a-historia-da-aldeia-mais-portuguesa-de-portugal/

 

Sem comentários:

Enviar um comentário