Em maio de 2021, estava a passear pelas ruas do Porto quando cruzei o olhar com uma janela que vestia despindo uma exposição de fotografia de Miguel Flor.
Antes de dissecar o livro como se de uma peça anatómica se tratasse é importante dizer quem é Miguel Flor.
Raramente o vemos sob holofotes. Ora nos bastidores, ora na linha da frente, é uma personagem diáfana que gosta de estar em movimento, como o tempo, sempre a caminho de coisas novas. É, por isso, muito seguido pelas novas gerações, que são hoje bastante atentas e não tem medo em investir e apostar em quem está a começar.
Numa busca por conferir visibilidade à cultura erótica associada aos jovens, Miguel Flor começou a desenvolver, a partir de 2017, o projeto fotográfico Boys Appetite, tendo como primeiro resultado um projeto editorial, começou por recolher e sub-rotular as primeiras imagens da série. Na sua maioria são fotografias “roubadas” de pessoas que não conhece, vê uma parte do corpo, uma atitude, etc, e faz uma imagem desse momento.
Este seu primeiro álbum fotográfico, Boys Appetite, despertando o desejo de juventude, o corpo e as suas expressões, está disponível na Stolenbooks desde janeiro de 2020
Ao folhear o livro deparamos-nos com a representação de corpos jovens, quase sempre masculinos (apenas existe um corpo feminino) em que o nu total ou parte dele aparecem de forma tão natural e em momentos do quotidiano.
As suas fotografias focam o pormenor, o que chama a atenção, o que é supostamente diferente, vê-se pele, sinais, cicatrizes, pêlos, … Alguns destes pormenores são também objetos, nos quais há uma sugestão sexual.
Miguel Flor fotografa muitos pescoços e nucas, dando quase a sensação que por detrás da câmara está um vampiro que pretende sugar a juventude e a energia dos jovens, criando assim um ambiente de erotismo e elegância.
É um projeto bastante íntimo, mas, ao mesmo tempo, não o é. Existe uma distância muito grande entre o autor e o objeto, é interessante no sentido em que não é palpável, ele não está lá, mas é a visão dele, o seu olhar.
O local de exibição, o espaço urbano, fez sentido pelo facto de dar visibilidade e entregar à cidade o que já faz parte dela: os corpos. Em contrapartida, devolve aos passeantes a oportunidade de notarem e refletirem sobre si.
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