quarta-feira, 13 de novembro de 2019

E. M. de Melo e Castro

[re]Emergência da Poesia Experimental



 

Em 2005 iniciou-se o projecto po-ex.net – Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, um domínio web para estudo e disseminação da poesia experimental. A exploração deste site convida à experimentação e facilmente se torna numa experiência imersiva (e quase infinita) em palavras, formas, sons e gestos que compõem um universo poético surpreendentemente diverso. 

 

António Nelos "Alieanação" (anos 1980)

 

O projecto po-ex.net surge com o objectivo de recolher, classificar, digitalizar e reproduzir em formatos digitais a produção da poesia concreta e visual portuguesa associada ao movimento da Poesia Experimental surgido na década de 1960 e do qual E. M. de Melo e Castro é uma figura incontornável.

Nasceu na Covilhã, em 1932. Aos 24 anos de idade formou-se em engenharia têxtil pela Universidade de Bradford, Inglaterra, e regressou à cidade natal para exercer funções técnicas na fábrica da família mas cedo abandonou o cargo para se dedicar ao ensino do desenho têxtil e à consultoria de empresas do mesmo ramo. Foi professor no IADE e professor convidado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Universidade de São Paulo, onde se doutorou em Letras em 1998.

A par das suas actividades profissionais desenvolveu uma profunda investigação, teorização e concepção no campo da poesia concreta brasileira, tornando-se numas das figuras principais (a par com Ana Hatherly) na emergência da poesia experimental portuguesa. 



Ana Hatherly "O Homem Invisivel" (s.d)


Ideogramas, publicado em 1962, reúne 29 poemas concretos, sem qualquer introdução ou nota explicativa, e é considerado um marco fundador do movimento PO.EX (acrónimo de POesia.EXperimental criado por E. M. de Melo e Castro para a exposição PO.EX/80 e usado no título do livro "PO.EX: Textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa" org. E. M. de Melo e Castro & Ana Hatherly, 1981). Seguiu-se a participação no primeiro número, e na organização do segundo, da revista Poesia Experimental (1964 e 1966 respectivamente). Colaborou em diversas antologias, suplementos e revistas, enquanto poeta e crítico publicou dezenas de livros e o seu trabalho artístico foi apresentado em diversas exposições colectivas e espectáculos em Portugal e no estrangeiro. Foi também autor de um conjunto de obras pioneiras na utilização do vídeo e do computador na produção literária, nomeadamente, desenvolveu entre 1985 e 1989, na Universidade Aberta, um projecto de criação de videopoesia denominado Signagens


Melo e Castro "Ideogramas" p.17

Melo e Castro "Ideogramas" p.38
Melo e Castro "Ideogramas" p.29


 




















E. M. de Melo e Castro define a Poesia Experimental como sendo “a problematização da invenção” e considera que um dos objectivos de todos os poetas experimentais da época era a “transnacionalidade” da língua portuguesa. O poeta experimental trabalhava na fronteira da escrita com as artes plásticas e, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, havia uma grande preocupação em fazer o poema sair da bidimensionalidade da página para outros suportes — p.e. fotopoema, vídeopoema, livro de artista, performance poética ou poema-objecto.

 

Fernando Aguiar "Ensaio para uma nova expressão da escrita" (1983)




FONTES
Taxonomia – página do arquivo digital da PO.EX

Poesia Experimental Portuguesa no Brasil – artigo do arquivo digital da PO.EX

Cronologias da PO.EX – artigo do arquivo digital da PO.EX

Castro, E. M. Melo e (1962) “Ideogramas” Colecção poesia e verdade, Guimarães Editora.

Torres, Rui (2008) “Enquadramento teórico e contexto crítico da PO.EX” Volume Número 1 do ebook Poesia Experimental Portuguesa - Cadernos e Catálogos.

Reis, Jorge dos (2017) “As partituras gráficas e sonoras de Ernesto Melo e Castro: sua construção e performance.” Revista Gama, Estudos Artísticos.

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