terça-feira, 22 de outubro de 2019

Práticas Tradicionais vs Práticas Contemporâneas

É possível aplicar a técnica do letterpress a uma técnica contemporânea? Isto é, associá-la a um meio que consiga fazer múltiplos de reprodução precisos e sem grandes margens de erro?

O letterpress trata-se de uma técnica tradicional que resulta na gravação de metal/madeira sobre papel. A combinação destes materiais permite um acabamento peculiar que lhes dá uma personalidade única em cada peça.
Os primeiros tipos metálicos foram habilidosamente fabricados, peça por peça, por Gutenberg, mestre da tipografia, em 1450. Procurando democratizar a escrita e transformando-a numa produção em série, criou vários tipos com caracteres feitos em metal, para que peça por peça se pudessem construir palavras, frases, e posteriormente textos inteiros. Hoje em dia assistimos a uma tentativa de recuperação desta técnica e maquinaria, precisamente porque os resultados falam por si só. 

fig.1. Caracteres Tipográficos.
Alan Kitching é uma lenda viva do letterpress. Dedica-se há mais de 50 anos a esta arte e é o grande mestre da impressão “DIY - Do it Yourself ” porque confecciona todas as peças que produz. 

fig.2. For the new Alan Bennett play Allelujah! at the Bridge Theatre, London, Alan Kitching.

O conceito “Do it Yourself” está muito presente na contemporaneidade. Talvez devêssemos apropriar-nos de uma técnica contemporânea que consiga projetar caracteres tipográficos.
Imaginemos que uma impressora 3D consegue reproduzir caracteres móveis? Trocaríamos a textura da Madeira pela do filamento, acabaríamos por reutilizar uma técnica antiga que não deixa de ter na sua essência um processo cuidadoso e também minucioso. 

Este processo consistia em criar fontes projetadas especialmente para impressão em 3D, e consequentemente utilizá-las com a técnica do letterpress com o intuito de esta não “cair no esquecimento” e dar oportunidade, por exemplo, a alunos de áreas ligadas ao design de aprenderem como se fazia tipografia antigamente, porque a tipografia é uma área muito importante do design gráfico e não pode, de modo algum, ser “descartada”.

Recentemente, o “New North Studio” juntou-se com outro estúdio de design - “A2/SW/HK”, para criar uma versão contemporânea de impressão tipográfica. Numa tentativa de recuperar a mais fabulosa e antiga técnica tipográfica, criaram assim uma nova fonte projetada especialmente para impressão em 3D. É um conceito relativamente recente e com uma visão de expansão muito favorável.   

fig.2. Letterpress font alphabet designed by A2-TYPE, 3D printed by Chalk Studios Commissioned by Nem North press

fig.3. Letterpress font alphabet designed by A2-TYPE, 3D printed by Chalk Studios Commissioned by Nem North press
Com o aparecimento da impressão 3D, os designers acumulam novas ferramentas que lhes permitem criar variações mais modernas de práticas tradicionais. Existem trabalhos que combinam, por exemplo, caligrafia, escultura e design e todos usam a técnica de impressão 3D. Para concluir apresento de seguida alguns exemplos.

fig.3. “Textscape”
O artista Hongtau Zhou cria documentos em 3D, o que faz com que o texto “ganhe vida”. Estes objetos tipográficos são também objetos conceptuais, fazem com que associemos esta obra a um género de “escultura tipográfica”.


fig.5. Capa do romance On Such a Full Sea de Chang-rae Lee, desenvolvida por Riverhead Publishing.
Esta capa transmite a ideia de um livro como um objeto artístico. O uso de impressão 3D em tipografia pode ajudar a desenvolver um suporte mais próprio e com mais identidade.

fig. 6. “Arkitypo” - Estúdio de design Johnson Banks.
O estúdio de design britânico Johnson Banks inspirou-se em tipografia antiga para criar um objeto artístico de design. Esta coleção consiste em impressões 3D em que cada letra provém de uma fonte diferente. Desta forma, a impressão 3D passa a ser uma forma de utilizar a tipografia sob um novo formato.


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