Alguém que pratica uma exploração constante de um qualquer meio, ou meios, para atingir um objetivo estético, político e/ou social meramente para proveito pessoal é um alguém a quem chamamos, geralmente, um artista. Explicado em termos muito vagos e abrangentes, pois sabemos que, muitas vezes, não existe uma definição direta para os conceitos do campo artístico. O papel de um artista na sociedade é simultaneamente muito livre e muito condicionado. Livre, pois não tem que, nem deve, responder a qualquer solicitação a não ser a de si próprio; por isso, os temas abordados e a forma de os abordar é inteiramente escolha do artista, desde a ideia até à sua materialização. Condicionado, pois é a resposta exterior ao seu trabalho que constitui o “ganha-pão” do artista e, como tal, pode dar-se o caso de se sentir indiretamente preso a essa condição. Ou seja, mesmo não sendo obrigado, no verdadeiro sentido do termo, retrata e explora ideias às quais a sociedade está mais recetiva, temas que estejam mais em voga. Aí, perder-se-á a vertente disruptiva e o papel “incendiário” que a arte tem numa sociedade?
Podemos afirmar que a arte deve fazer questionar, deve conduzir o público em direção a uma conclusão já retirada pelo criador da obra, durante o processo de idealização e concepção. A arte deve pegar no contexto circundante e trabalhá-lo, moldá-lo, para formular novas perspetivas, muito vezes antagónicas às ideias vigentes. Essas perspetivas podem ser bem recebidas se houver no público um desejo de mudança e isso fará com que o artista seja bem sucedido. Mas e se o artista se vir forçado a alinhar com opiniões de interesse geral, com as quais não concorda, para poder ter um retorno líquido positivo? Poderá a sobrevivência financeira sobrepôr-se à sua deontologia? Para manter o “rótulo” de artista pode continuar a fazer um trabalho que não parte de uma convicção própria intrínseca mas de uma necessidade de lucrar? A realidade dura de um artista é que, apesar de tudo, ele trabalha, na maior parte dos casos, inserido numa sociedade estruturada pelo dinheiro: precisa de pagar renda, alimentação, seguro, água, luz, etc., para viver com o mínimo de conforto. Ao mesmo tempo, deve desenvolver o seu trabalho em oposição à “corrente”, o que nem sempre garante estabilidade financeira mas garante uma consciência tranquila em relação à coerência com que desempenha as suas funções. Qual é então o caminho a seguir? O que pode um criativo fazer para resolver este dilema? Sendo que, a partir do momento em que escolhe o seu próprio conforto renega a sua posição contestatária e prioritiza o dinheiro em detrimento da arte; ou então, escolhe viver à margem, financeiramente instável, mas conscientemente tranquilo. Estará o artista para sempre condenado a viver na área cinzenta?
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