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Morris Cox, inglês nascido em 1903,
com formação em artes e literatura, aos cinquenta e quatro anos, cansado de ter
seus trabalhos – por vezes linguisticamente demasiado experimentais – recusados
por editoras, decidiu fundar a sua própria private
press, a Gogmagog, A partir daí, passou a publicar ele mesmo os seus
escritos. Nesse primeiro momento, no qual ainda se familiarizava com a sua nova
máquina de impressão em letterpress,
lançou títulos que misturavam textos e imagens de forma tradicional, ou seja, fazendo
do livro apenas um veículo para a expressão de um conteúdo e não o conteúdo em
si.
Essa história mudou quando, em 1960,
Cox acidentalmente descobriu que a tinta poderia ser transferida de uma matriz
de impressão por métodos bastante diferentes daqueles que lhe haviam sido
ensinados na escola de artes, o que ele veio, mais tarde, a chamar de action printing. Nesse mesmo ano
publicou The Curtain, livro que traz
um poema de sua autoria ilustrado com gravuras feitas a partir de pedaços de
estopa, trapos de tecido, folhas secas, penas, tinta diluída com gasolina, e até
mesmo um crânio de passarinho. A partir daí os processos de impressão de suas
publicações se tornaram eles próprios a essência das mesmas, perdendo suas
atribuições meramente funcionais para se tornarem parte do processo criativo.
Após o lançamento do The Curtain, a Gogmagog Press disparou a
experimentar radicalmente diferentes formas de impressão e materiais na
composição dos seus livros. Concepção e execução passaram a não se apresentar
como processos distintos, mas cooperativos e indissociáveis. Morris Cox misturou
técnicas e tintas, resgatou processos históricos e subverteu-os, fez do texto
imagem, do paratexto texto. Utilizou objetos efêmeros e descartáveis, alheios
ao mundo da impressão, para imprimir em papéis refinados, bem como construiu
suas próprias máquinas para aperfeiçoar o sistema de impressão indireta que
estava a desenvolver.
Outro trabalho interessante de Cox,
realizado em 1963, quando ele estava com sessenta anos, é o livro Crash!, que pode ser considerado uma espécie
de manifesto gráfico do autor, que descreve, nas páginas finais, as técnicas utilizadas por ele para a impressão
de cada uma das imagens ali presentes. Nessa altura a Gogmagog Press já estava
a transcender a sua primeira missão de simplesmente publicar os trabalhos de
seu idealizador para se transformar ela mesma na própria obra de Morris Cox. Cada
livro era uma aventura de produção, uma soma de texto, imagem e produção que não
se encaixava em nenhuma categoria preexistente. Todos encadernados manualmente
pelo autor.
Ao se aproximar dos oitenta anos,
quando o trabalho de impressão começou a se tornar mais penoso para seu corpo,
Cox trocou o letterpress e as máquinas de impressão indireta que criou por uma
máquina de xerox, na qual seguiu produzindo seus livros até os oitenta e seis
anos.
Morris Cox morreu em 1998, aos noventa
e quatro anos. Seu trabalho segue até hoje relativamente pouco conhecido, mas seu
vigor é ímpar.
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Referências Bibliográficas:
PIQUEIRA, Gustavo. Morris Cox e sua Gogmagog Press. Editora Lote 42: São Paulo, 2017.
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