O Museu Coleção Berardo inaugurou no dia 18 de
outubro a exposição Meus Pequenos Amores de Sharon Lockhart, com a curadoria de
Pedro Lapa. Esta exposição reúne obras em fotografia, filme e outros objetos que
retratam uma comunidade particular de crianças e raparigas adolescentes
residentes no Centro Juvenil de Socioterapia de Rudzienko, na Polónia.
O ponto de partida para esta exposição é feito através do filme Rudzienko (2016). As ações, as experiências e as vozes dos jovens são o assunto
principal, e é onde no primeiro momento da trilogia, Podwórka (2009), que
Lockhart conhece Milena, e mais tarde as outras raparigas. Este convívio levou-a a criar com
as jovens filmes que exploram interações sociais pessoais e coletivas.
A relação íntima que Lockhart partilha com os jovens
permite-lhe filmar e fotografar as singularidades de cada individuo através de composições meticulosamente estudadas e coreografadas. O conjunto de
obras apresentadas nesta exposição resulta do envolvimento da artista com a infância e a adolescência dos jovens que participam, obtendo uma confiança daquelas que permite
correr de olhos fechados e ser-se
livre no escuro.
Os trabalhos selecionados abrangem os anos 1999 até 2017, em que a artista desenvolve ideias relacionadas com os direitos das
crianças, o efémero e a emancipação. Inspirada pelo pedagogo Korczak, Lockhart queria dar voz às crianças e sentimos isso ao longo desta
exposição. Os jovens manifestam-se abertamente e em nenhuma altura sentimos que
a sua privacidade foi invadida. Uma vez que a relação que existia entre as
participantes e a artista não surgiu através de linguagem falada mas, através
de brincadeiras e imagens trocadas, podemos observar essa conexão pelo
movimento corporal e através das suas atividades, captadas por uma camera com planos
fixos, explorando a interação pessoal e coletiva.
Esta exposição é uma documentação das jovens
residentes do Centro Juvenil, composta por momentos efémeros e por outros
objetos como uma edição em braille do livro “Como amar uma criança” de Korczak
(1919) e uma monoprint recriada por Lockhart e as adolescentes, chamada “The
Little Review”. São apresentados ao visitante exemplares gratuitos com edições em
inglês e em português.
Ao caminhar pelo acolhedor corredor de espaços
iguais e tetos baixos podemos ouvir o
som de crianças a brincarem. A meio deste deparamo-nos com um tríptico que
quebra a leitura das salas até ali. São três fotografias de Milena, em que nos
apresenta um olhar tímido e divertido. As imagens são instaladas em três
volumes arquitetónicos e dispostos de forma a não nos ser permitido ver as três
fotografias em simultâneo, obrigando o observador a mover-se, criando uma espécie
de coreografia.
Têm se uma sensação de intimidade e evolução. O
crescimento destas crianças é documentado, mas é com Milena que cumprimos a
derradeira corrida até ao mar. Entramos e saímos do universo infantil e de jovens adolescentes,
do registo da vitalidade e da densidade poética
destas pessoas.
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