Claire de Santa Coloma na 3+1
( primeira exposição depois do prémio )
A exposição PAUSA apresenta o trabalho mais recente de Claire de Santa Coloma na galeria 3 + 1, Largo Hintze Ribeiro 2E-F, que inaugurou dia 17/11/17 e pode ser vista até ao dia 13/01/18.
Claire de Santa Coloma, a artista Argentina que nasceu em Buenos Aires ( 1983 ), vive e trabalha em Lisboa, cidade onde já realizou inúmeras exposições em espaços expositivos, galerias e museus. Saio vencedora da exposição no MAAT do Prémio Novos Artistas da Fundação EDP no ano em que, curiosamente, Lisboa foi eleita pela União das Cidades Capitais Ibero-Americanas para ser, em 2017, a Capital Cultural.
O titulo da exposição, PAUSA, segundo Isabel Carlos, numa primeira analise, muito literal, pode ter a ver com uma pausa desejada pela artista, uma necessidade, devido aos últimos meses de trabalho intensivo, de mediatismo e grande visibilidade no meio artístico. Na minha opinião o trabalho de um artista não tem pausa, mesmo nas suas pausas literais, os artistas não param de pensar, nem de se indagarem,ou de criar.
Numa analise mais profunda, com a qual eu concordo e acho que seja a visão mais correcta de reflectir o titulo da exposição e o trabalho da artista, pois o primeiro ponto de vista sobre o conceito de pausa pouco acrescenta ao titulo da exposição, ás obras de arte que são expostas, bem como ao todo da exposição e ao próprio statment da artista. Isabel Carlos analisa a palavra pausa no dicionário que, passo a citar, tem os seguintes significados:
“interrupção de um acto por algum tempo”
“vagar"
“sinal, com que na música se indicam as interrupções”
E finalmente: “intervalo das vigas de um madeiramento”
O ultimo significado apresentado adequa-se e desvenda a obra de Claire de Santa Coloma, uma prática escultórica, formalista, centrada na técnica do talhe directo, coerente e que à primeira vista, as suas esculturas são só aquilo que vemos, formas abstractas de madeira minuciosamente trabalhadas. Estas esculturas revelam os intervalos entre os veios da madeira, os seus silêncios.
Sem título ( escultura de parede ) |
Sem título ( coluna ) 2017 |
A primeira escultura está na parede quase ao nível dos olhos, é uma semiesfera que dialoga com a segunda escultura, uma coluna mais alta que a média de altura dos Portugueses, com 1.93m de altura. Esta coluna é composta por duas partes, um paralelepípedo colocado na vertical, de madeira clara, e uma forma abstracta encaixada no topo da coluna em madeira escura, apesar de abstracta esta coluna fez me lembrar um corpo com uma cabeça.
Sem título ( coluna ) 2017 |
Banco para contemplação, 2017 |
Neste piso encontra-se uma quarta obra, Escultura sobre Tela, 2017, exposta no que eu chamarei de plinto horizontal. No fundo trata-se de uma base rectangular pintada, com pouco mais de 20 cm de altura, com uma escultura abstracta de madeira posicionada num canto deste mesmo rectângulo. A artista chamou-lhe tela, dá que pensar, uma tela no chão a servir como base. Tanto nesta obra como na obra Banco para contemplação a artista exalta a dicotomia entre pintura e escultura.
Escultura sobre Tela, 2017 |
Sem titulo ( suspensão | suspention ), 2017 |
No piso de baixo, estão expostas três obras. Sem título ( suspensão| suspension ), mais uma vez uma forma abstracta talhada directamente em madeira que, como o titulo sugere, está suspensa, por um leve e fino cabo de aço atado a uma tira de cabedal cor de rosa murcho que envolve a escultura sem a apertar.
Quase à mesma distancia do chão, ou do tecto, que a escultura que se encontra suspensa, posiciona-se entre as outras duas esculturas, Sem titulo, 2017, uma forma, à semelhança das outras, abstracta mas que trás uma novidade, uma estrutura metálica, tipo tripé, que dá a sensação de suspensão mas que pretende actuar como um paradoxo em relação à outra, pois não está suspensa mas sim assente. Enquanto que em Sem titulo ( suspensão | suspention ) o equilíbrio vem de cima, em Sem titulo o equilibro vem de baixo.
Sem titulo, 2017 |
Por fim a ultima obra, um decalque sobre papel, um desenho de frottage, uma técnica desenvolvida pelo surrealista Max Ernst por volta de 1925, que consiste em captar um textura através do decalque, da pressão exercida por um lápis num papel que por sua vez está por cima de uma textura. Assim o fez Claire de Santa Coloma, pôs um enorme papel ( 115x281.5 ) sobe o grande rectângulo de madeira que compõe a obra “Banco para contemplação” e o resultado é um desenho de todos os pequenos veios e declives feitos à mão pela artista, parece quase uma impressão do ondulado típico da madeira talhada.
Um pormenor expositivo desta obra que faz todo o sentido e aliás acrescenta muito ao carácter de instalação, que tanto preocupa a artista em todas as suas exposições é o facto que esta se encontra colocada exactamente na mesma parede que a prancha de madeira que originou este desenho, mas no piso de baixo, como se pode ver na folha de sala.
Esta é uma exposição de escultura sobre escultura, bem elaborada, com espaço para o expectador andar, ver e contemplar e com espaço para as obras respirarem. Recomendo.
Sem comentários:
Enviar um comentário