A Catarse do Arquivo
A Conversa Inacabada: Codificação/Descodificação,
Artistas :Terry Adkins, John Akomfrah, Sven Augustijnen, Steve McQueen, Shelagh Keeley, Zineb Sedira.
Curadores :Gaëtane Verna, Mark Sealy
Museu Coleção Berardo
21.09 até ao último dia do ano.
Entrada gratuita
A Exposição parte do texto que lhe dá nome, Encoding and Decoding in the Television Discourse, de Stuart Hall, um sociólogo jamaicano que emigrou para o reino unido prosseguindo os seus estudos na Universidade de Oxford.
Encoding and Decoding in the Television Discourse (1973). influenciado por Semiótica de Roland Barthes, desenvolve a teoria que a entidade é um aspecto fluido, em constante movimento, assim Hall afirma que o discurso televisivo é formulado não só na sua produção mas como na recepção, ou seja é descodificado pelo seu observador, que irá receber uma mensagem adequada ao seu lugar na sociedade. Tendo sempre como foco as minorias que são discriminadas por este formato de comunicação.
Assim a exposição, sendo uma das mais politicamente assertivas dos últimos anos, pretende direcionar o observador numa viagem temporal, para que este possa encontrar imagens que o relacionem com os problemas que ainda hoje perduram. Composta por seis salas onde estão instalados cinco videos e uma serie fotográfica. Somos imediatamente submetidos ao arquivo, sendo este o veículo que nos transporta no tempo e no espaço, tão importante como a sensação de imersão que também está presente em todas as obras.
Logo na primeira sala o video de Steve McQueen, End Credits, somos imersos na bidimensionalidade dos documentos recolhidos pelo FBI sobre Paul Robeson, destacados pelo contraste cromático da sala/video.
Em Gardiennes d’Images, de Zineb Sedira, a esposa de Mohamed Kouaci proclama-se a guardiã do arquivo pessoal do falecido marido, contando a sua história, é nos possível estabelecer uma relação de bastante proximidade através de dos dispositivo de som direcionado.
No mais pequeno dos vídeos, deparamo-nos com uma intermitência desenfreada de imagens, para mais tarde percebermos que as mesmas se agrupam em pares com ligeiras diferenças de ângulo. A peça Orations (from the Principalities) de Terry Adkins, Flumen, é composta a partir de fotografias estereoscópicas, uma outra forma do que hoje chamamos de 3D.
Na sala seguinte Shelagh Keeley apresenta 27 fotografias. Devido a terem sido capturadas no período da proibição fotográfica no Zaire, apresentam uma aura negra, não só metafórica como literal, devido ao pano que escondia a câmara. Expostas consecutivamente e sem qualquer espaço entre elas, ganhando um carácter cinematográfico.
Por ultimo podemos encontrar a peça Unfinish Conversation de John Akomfrah, aqui é explorado a vasta carreira de Stuart hall, reflectindo sobre a essência do ser, do eu, e do existir, mas como um produto proveniente da memória e da história.
Contudo é na multiplicidade dos ecrãs/planos e na mistura sonora, que somos imersos na obra, onde o sentimento de catarse é irremediável.
No piso inferior, é apresentada a peça Spectres de Sven Augustijnen, ao estilo do cinema convencional, onde é representada a luta pelos direitos do povo do Congo Belga
considerado posse de um só homem o rei Leopold II.
Contudo queria deixar uma opinião em relação aos espaço, tendo em conta que esta exposição transitou de um espaço muito diferente (The power plant contemporary art gallery) e que as obras possuem características que não podem ser alteradas.
Ao entrar no piso 0 do Museu Berardo, deparamos-nos com uma irregularidade de paralelepípedos, que vão formando cantos labirínticos na transição das peças, sendo também da opinião que esta circunstância cria alguma descontaminação do vídeo anterior à medida que tentamos encontrar a entrada para o próximo.
Deixo assim o convite aberto, para uma que é das melhores exposições do Museu no ultimo ano.
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